sexta-feira, 24 de junho de 2016

Do Que Ainda



Doce é o sabor da fruta
Colhida no pé,
Na plenitude da estação;
A deslumbrante visão
Da altitude inexplorada
De uma montanha gelada;
A água cristalina,
Que corra ainda,
Na mata inexplorada;
A vida, enquanto intacta,
Sem as marcas da decepção;
A forma despojada
E cheia de ilusão
Da menina que ainda
Não se fez moça,
Da moça que ainda
Não se desfez da menina.
  
Fábio Murilo, 31.10.2001

sábado, 18 de junho de 2016

Contrassenso


Tenhamos vaidade
Enquanto é tempo,
Da cidade dos mortos
Ninguém terá saudade.

Vejo zumbis, mortos vivos...
Gente que pensa que existe,
Só porque está vivo.

Pensar... Pensar dói!
Pensar no alto preço que pagamos
Toda vez que respiramos,
No debito que acumulamos
A cada riso.

Melhor é não ter siso,
Ignorar para continuar vivo.
  
Fábio Murilo, 30.04.2013

quinta-feira, 9 de junho de 2016

A Preferida


Uns se afastam e não me afetam,
Não interessam, não deixam rastros.
Mudam de cidade, planos, rumo,
Vão embora e nem me preocupo.
Tragados pelo cotidiano, escapam,
Ao som de um berrante chamando-os
Quais reses desgarradas ao rebanho.

Você não, é como perder um braço,
Uma perna, um pedaço, uma parte.
Meu relógio contam horas, eras
De minha espera por sua demora.
Pois quando você parte eu surto,
Você indo embora eu vou junto.

Fábio Murilo, 05.06.2016

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Dizimo, Com Quem Tu Andas


Deus me livre do deus de gravata,
Do deus burocrata,
Do deus empreendedor,
Em vez do Deus do amor
E da caridade.

Deus me livre do deus formal,
Cheio de etiquetas e intransigente,
Dessa gente pior que ateu,
Que finge em acreditar em Deus.

Deus me livre do deus que cresceu,
E hoje, em vez da manjedoura,
Deita em reluzentes altares;
Em vez de burro, anda de Ferrari.

Do deus desses fariseus,
À sua imagem e semelhança:
Deus da ganância,
Do evangelho da prosperidade.

Fábio Murilo, 07.03.2010