Como
pão com sabor de nada, a minha boca tá estranha.
Tem
um oco em meu peito, um coração sangrando,
As
vísceras expostas num espetáculo medonho.
Não queria mais sofrer, mas não teve jeito,
A
vida sempre desaponta, é essencialmente trágica.
Eu
vi a glória do céu se abrir, voei num corcel alado,
Pairei
sobre os edifícios, contemplei pores de sol,
Luzeiros
prateados, luares de cristal, faróis dos carros.
Respirei
o ar gelado da noite da mais alta atmosfera.
Vi
uma nova era surgir, um novo século se abrir.
Foi
quando um buraco engoliu o menino correndo,
Um
tiro no peito da ave canora, em pleno voo,
A
fez cair enxague numa poça de sangue, sucumbir.
De
repente tudo se inverteu, e o que era céu virou chão,
O
que era espaço, escasso, o que era caminho, contramão.
Um
cometa destruiu tudo, toda fauna e flora se foram.
Queimou
florestas e deixou desertos, incertos.
Tudo
virou nada, lugar nenhum, escuridão, desolação.
O
que era perto ficou longe, estrada pra lugar algum.
A
vida toda retrocedida à estaca zero, agora seria,
Triste constatação do que tinha a toda hora e não
mais teria.
Fábio
Murilo, 17.01.2015