A pedra olhada mais
detidamente, é vária,
Servindo de abrigo ao tímido
inseto,
Refletindo a claridade, criando
limo.
E aqueles transeuntes apressados,
São depósitos de sonhos, itinerantes,
São máquinas calculadoras
ambulantes.
A vida tem compartimentos, instantes:
O instante do facho de luz
que penetra
Pelos vidros da janela cortando
a escuridão,
Trazendo a manhã pelas mãos;
Da formiga que sobe em meu braço,
Em meio à selva de pelos,
obstáculos;
Da existência toda resumida num
só bolo,
Não saboreada nos detalhes, nos
contornos,
Pelos cantos, feito um prato
de papa;
Das luas que se desfazem em fases;
Das estrelas que brilham mais,
Quando se apagam as luzes
artificiais;
Do óbvio tão imperceptível na
cidade,
Invisível a quem vive apresado,
Obcecado por necessárias
futilidades.
Fábio Murilo, 17.09.2014
32 comentários:
Boa noite, Murilo.
Pela janela observamos o quanto a vida pode passar tão rapidamente e nós mesmos não fazermos nada de boa qualidade para vencermos o mecanismo tão automático de sabotar os sonhos em meio ao encontro selvagem da nossa existência.
Seria muito bom que víssêmos a beleza em cada lugar e déssemos vazão ao sonho de felicidade sem escravizar-nos na correria diária.
Tenha um fim de semana de paz.
Beijos na alma.
Bom dia Fábio
Que maravilha de poesia. Da janela pode observar-se muita coisa, muita mesmo.
Tem um feliz fim de semana,
Beijo
http://coisasdeumavida172.blogspot.pt/
Vivemos num mar de preocupações e de responsabilidades, porém, devemos ter sensibilidade e gratidão, para percebermos a benção que é a vida.
Bonito, Fábio!
Beijo!
"necessárias futilidades", acho que esse foi um desfecho profundo e não poderia ser mais apropriado, Fábio, pois resumiu todo o poema em um verso.
Quantas delicadas e pequenas coisas tão importantes perdemos de vista quando nos preocupamos com as nossas necessidades fúteis, tão mesquinhas e minoritárias do que a própria vida...
Muito bom! Sempre bom te ler, um ótimo fim de semana.
Beijos
Boa tarde Fábio... é por estas janelas que a vida entra.. que vemos nós mesmos refletidos no exterior..
já escrevi muito sobre elas.. sempre são fontes de inspiração.. abraços poeta
De uma janela aberta para o escuro da noite que traz a madrugada nas suas mãos, podemos ver o quanto vivemos alheados das pequenas coisas , tornados autómatos de um dia atrás do outro, sem novidade ou maravilha.
Tudo se vê melhor quando se apagam as luzes artificiais. É bom que acordemos para o que é essencial, mas de facto as grandes cidades são um sorvedouro de emoções.
Um dos mais belos poemas que aqui li.
xx
É preciso desapressar o passo, desacelerar a vida... para que as pequeninas coisas do dia a dia possa encontrar guarida na sensibilidade e no encantamento do olhar tantas vezes perdido nas luzes artificiais...
Sorrisos e estrelas,
Helena
Oi Patricia, Boa Noite! Disse tudo e muito bem! Sintetizou com perfeição a ideia do texto. Essa correria, nos escraviza, quando se vê, perdemos toda vida, ai é tarde, é o perigo. Beijos, Pat!
Oi, Cidália, obrigado, tudo é uma questão de angulo, de foco, "Quem tem olhos pra ver que veja". Obrigado.
É, o problema é que esse mar vai nos engolindo, mavo-nos acostumando com a rotina, ficando anestesiados das emoções, nas reações, e não salvando aquele naufrago, aquele potinho preto, nós mesmo no meio do mar revolto, da corrente que vai nos arrastando cada vez mais. Obrigado, Shirley. Beijos!
Oi Rita, bonita frase. Beijos.
Opa, Samuel, nobre poeta. De repente não sei se é porque se está inevitavelmente focado, sem a dispersão do espaço aberto, o individuo, tem esse instante de lucidez. De repente imagino essa janela como a de um hospital, onde alguém, subitamente, vê sua vida pausada, em sinistra expectativa e repare que tudo que acreditou pode dar em nada, que o que vale realmente ele não tenha dado valor até então e faça uma retomada de consciência e procure buscar o tempo perdido, deseje ardentemente a vida, enquanto é tempo. Obrigado! Abraços.
OLÁ Fábio
Passando para conhecer um pouco do seu blog. E chegando aqui encontro esta profunda poesia.Dá janela observamos a natureza da luz das estrelas que nos encantam. Parabéns pelo bela postagem, Aguardo sua visita quando puder. Um lindo dia para vc.
Ana
Estou seguindo seu blog e se vc tiver vontade me siga me ficarei super feliz.
O cotidiano fatigado fica mais emocionante quando esparramado em tuas linhas.
Linda semana, te desejo.
Quem vive com pressa não enxerga nada em seu caminho. E aos poucos estamos perdendo a sensibilidade de contemplar as coisas simples. Um abraço!
Muito bom, Fábio. Inadmissível, mas é fato. O doce sabor da vida tem se tornado amargo, diante do destempero das indiferenças diárias, da ausência de prioridades que arejam a alma, da falta de tempo que priva o brilho do partilhar as emoções, dando espaço ao pez da solidão. Texto belo e intenso. Parabéns!
Poxa... Que tirocínio! Enquanto isso a vida escorre de nossos dedos, escapa , em vão, de nossas mãos. Captou com perfeição a essência do texto. Obrigado, Carol. Beijos!
Obrigado, Laura, não preciso acrescentar mais nada, comentou muito bem!
É mesmo, Helena, difícil é desacelerar e não se deixar levar pela correnteza dos compromissos, dos horários marcados do "inadiável", do automatismo a que fomos condicionado. Obrigado.
Olá, Ana. Que legal! Sinta-se a vontade. Obrigado pela visita.
Ô, quanta gentileza, jovem poetisa, tu que é demais!
Oi, Nanda. Pois é, estamos cobertos de razão. Todos estão surdos, cegos, mudos. Abraços!
Oi, Lu. Seu comentário dispensa maiores comentários. Muito lucido e corrente e preciso. Somou!
Que contemplação mais linda Fábio, confesso, dos teus este é o meu poema favorito, tá. Já escolhi!
Lindo mesmo. Gosto desses ínfimos detalhes onde esconde-se o belo. Em minúsculo.
Grande abraço, és ótimo.
Que lindo! Quando nascemos nos é dado uma janela: por ela passam sentimentos observados que um dia nem cogitamos em assistir. Moro defronte a uma área arborizada e um enorme hospital, e por ela vejo as mais incríveis paisagens humanas desfilando seu arsenal, ora de egoismo e descaso, ora de amor e de cuidados. Vejo então a verdade de uma simples janela por onde enxergamos os valores reais, distintos da nossa vida.
Beijo!
Obrigado, Nato. Que bom que apreciou tanto o poema. Abraço.
Que interessante, inicialmente imaginei esse poema escrito de uma janela de hospital, o titulo até seria, a princípio janela do hospital. Imaginei o mundo na visão de uma pessoa se convalescendo, olhando-o por esse prima, reparando e reconhecendo o valor das coisas, antes consideradas inexpressivas, insignificantes, banais, agora não mais. Beijo, Tais!
"Já não se escrevem mais poemas,
Escreve-se memorandos e ofícios;
Já não se tem mais apreço,
Tem-se um preço, um custo;
Já não há mais relacionamentos,
Há um pacto, um contrato;
Já não se tem mais amor,
Tem-se um caso, um passatempo;
Já não somos mais humanidade,
Somos um aglomerado, um agrupamento."
Fábio, não encontrando um novo poema para curtir e admirar, e tendo um pouco de tempo a mais, fiquei passeando por outros versos teus e lá no princípio do ano deparei-me com Desencanto. A imagem de uma calçada vazia onde apenas uma flor se sobressai e os versos acima que impressionam pela clareza com que expuseste uma realidade tão presente hoje nos sentimentos e nas emoções que configuram um relacionamento.
“Já não somos mais humanidade,
Somos um aglomerado, um agrupamento.”
Tanta verdade expressa nestes últimos versos!
Dei também uma passeada pelas mensagens e só posso dizer que é uma pena não ter descoberto há mais tempo este teu blog tão verdadeiro, tão sincero, e com tanta coisa para se apreender e aprender, através da tua imensa capacidade literária.
Receba minha admiração através de um punhado de sorrisos que te deixo atados no brilho de mimosas estrelas.
Com carinho,
Helena
a janela como possibilidade de luz entrar em sair, não pela negatividade. mas do modo mais positivo e profundo possível. é belo!
dentrodabolh.blogspot.com
Oh, muito obrigado, Helena. Sinto-me lisonjeado por suas gentis e amáveis palavras. Muito obrigado pelo carinho, você é sempre muito bem vinda.
Obrigado, Sandrinha, que bom que tenha gostado, a casa é sua. O perigo é ficar olhando a vida só da janela, vendo de camarote, não tomar a vida para si e se transformar em coadjuvante da propria estoria. Ver a vida apenas acontecendo e a gente se esquivando por falta de tempo, por comodismo, tirando por menos. Abraço!
Perfeitamente, conterrânea. Obrigado!
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