sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Ausência



Como pão com sabor de nada, a minha boca tá estranha.
Tem um oco em meu peito, um coração sangrando,
As vísceras expostas num espetáculo medonho.
Não queria mais sofrer, mas não teve jeito,
A vida sempre desaponta, é essencialmente trágica.

Eu vi a glória do céu se abrir, voei num corcel alado,
Pairei sobre os edifícios, contemplei pores de sol,
Luzeiros prateados, luares de cristal, faróis dos carros.
Respirei o ar gelado da noite da mais alta atmosfera.
Vi uma nova era surgir, um novo século se abrir.

Foi quando um buraco engoliu o menino correndo,
Um tiro no peito da ave canora, em pleno voo,
A fez cair enxague numa poça de sangue, sucumbir.
De repente tudo se inverteu, e o que era céu virou chão,
O que era espaço, escasso, o que era caminho, contramão.

Um cometa destruiu tudo, toda fauna e flora se foram.
Queimou florestas e deixou desertos, incertos.
Tudo virou nada, lugar nenhum, escuridão, desolação.
O que era perto ficou longe, estrada pra lugar algum.
A vida toda retrocedida à estaca zero, agora seria,
Triste constatação do que tinha a toda hora e não mais teria.

Fábio Murilo, 17.01.2015

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

A Mulher Simples



Ela “não esquenta com nada”,
Não antevê. Só espera da vida
O que lhe foi destinada, mais nada.
Não tem rugas no rosto,
Nem expressão de desgosto,
Apesar da meia idade.
Sempre calma, sem susto,
Resignada com tudo.
Não tem maiores aspirações,
Suas ambições não vão além
Das limitações do quintal.
Não vive pensando na vida
Inevitável sucessão de dias,
Um dia após o outro, afinal.
É feliz dessa maneira, ou seja,
Sem desejo não há tristeza.
  
Fábio Murilo, 08.12.2014

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Autenticidade

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Motivação






Uns discutem futebol,
Outros falam de política,
Outros comentam a TV,
Ração diária de escândalos.
Uns criam passarinhos,
Outros pensam na vida
E são de uma tristeza só.
Tantos se intoxicam
De ópio e copos tentando
Fugir de si próprios.

Enquanto eu, não digo nada,
Atípico, vivo um bom momento.
Afago a alma e me distancio
Com você no pensamento.
  
Fábio Murilo, 14.01.2015