sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Nos Dias de Momo


Minha alegria não era alegria,
Era uma desesperada euforia.
Paródia de uma liberdade
Que nunca fora plenamente vivida.

Minha felicidade foi frágil
E fabricada, mas me contentei...
Melhor que nada.

Pois, de repente aquele rei de mentira,
Me deu todos os direitos.
Até o direito de ser ridículo:
De ser palhaço, menino, bicho...
Rei, de cuja corte, ao final do engodo,
Fui apenas o bobo.

Socedade dos Poetas Mortos - Trecho

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Madura Idade


Os anos estão passando...
Já não tenho mais pressa em viver.
A ânsia inconsequente de adolescente,
E as ilusões de rapaz,
Agora jaz, na maturidade.

Sinto-me inconveniente
Como uma nódoa no pano estampado.
Inadequado como um gado,
No centro da cidade.

A flor dos meus valores
Restou abandonada na calçada,
Sem nenhum odor num fim de tarde.

Hoje, atento a cada segundo,
Vivo como não tivesse mais tempo
E tenho todo tempo do mundo.

Fábio Murilo, 14.10.2011

Ora Direis Ouvir Estrelas - Olavo Bilac

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Grávida


O ventre (a)crescido
de uma mulher grávida
São nove meses passando.
Consumindo, consumando,  
A espera, a expectativa. 
É o laboratório humano 
Onde a química do corpo 
Trabalhando ativa, 
Vai tramando, modelando, 
Dando vida
Ao milagre da vida. 
A semente escondida, 
Chamada gente.

Clarice Lispector por Carlos Navas

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Das Coisas Inusitadas


Antes que eu perca a graça
Como um velho parque de diversões
Sucumbindo à ferrugem e o abandono,
Como um brinquedo ultrapassado
Deixado num canto,
Por desencanto do dono.
Chegarei de surpresa
Como um temporal
Anunciado-me em raios e trovoadas;
Como uma chuva de verão
Alagando as ruas, lavando as calçadas;
Como uma aurora boreal,
No teu quintal, de madrugada.

Fábio Murilo, 06.02.2014

Soneto de Fidelidade (Vinícius de Moraes)