sexta-feira, 26 de junho de 2015

Butterfly



Fica assim não, senão todas as aves do céu cairão,
As estrelas se precipitarão num cataclismo apocalíptico.
As canções não serão mais ouvidas, comovidas calarão.

Fica assim não, vai, levanta a cabeça, ressuscita a criança
Que antes havia e nada sabia da vida, sorria apenas,
Acordava e dormia sem preocupação e medos vãos.

Repara no espelho teu rosto é belo, põe uma flor no cabelo.
Raro é teu jeito a espalhar afetos e sorrisos.

Rasga, nesse lusco-fusco, a feia crisálida que agora te oprime
E injustamente comprime tuas lindas asas de borboleta.

Fábio Murilo, 26.06.2015

sexta-feira, 19 de junho de 2015

A Redentora


Salve-me da solidão, desse chão inóspito,
Esse cão medonho, essa consumação,
Essa aberração da natureza humana.
Quero me proteger em tua sombra
Da soma de todos os medos, apegos vãos.
Traga a calma merecida a esse condenado.

Mão estendida ao que clama no fundo do poço,
No lodo escorregadio e pastoso, no atoleiro.
Ao que restou sombrio, pesaroso, entregue.
Deixado em posição fetal, abandonado.

Sequioso dessas tuas flores improváveis,
Inimaginavelmente no asfalto brotadas, 
Colhidas num canto qualquer de calçada.

Fábio Murilo, 19.06.2015

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Pretérito Perfeito


O passado é um gado manso
Pastando num vale ensolarado;
É uma cadeira de balanço
No canto da sala;
É um tigre de bengala
Cochilando na jaula;
É um lago esverdeado
Pelo lodo acumulado no fundo;
É o mundo estagnado
Da janela do quadro;
É um instante de alegria
Capturado numa fotografia.

 Fábio Murilo, 20.08.2002

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Grato


Não sei o que você viu em mim.
Talvez um rio impressentido,
Inacessível abismo do meu ser.
Só sei que você me alcançou,
Como ninguém ousou antes.
E o que eu sou abriu em flor,
Surgiu como jamais se viu.
Acalmou o animal arredio,
Que havia em mim.
Ganhou minha confiança,
Como ninguém conseguiu.

Fábio Murilo, 01.06.2015