Guerreira eu sei que tua vida não tem sido fácil, eu
sei, guerreira. Mas, és valorosa, tu és uma rosa no meio do charco, tu és de
ferro, uma rocha inabalável que o vento fustiga, as ondas castigam e em troca
te adaptas, virás escultura, fica mais admirada, admirável, mais bela,
transformas as vicissitudes em lucro, aprendizado.
Daqui de baixo observo teu
rastro, nessa insignificância cotidiana, sobre a qual tu planas feito um
pássaro, uma águia soberana, com tuas lindas plumas
reluzentes, incandescente, contra o sol inclemente, realçadas. Também tens a
brancura das garças, és uma graça, guerreira, que nunca se macula, se suja nas
águas turvas, barrentas dos rios correntes, e magoas adjacentes, sempre
reluzente, de um branco impecável, que dói na vista, mesmo na lama dos mangues.
Tens a envergadura dos condores dos Andes, nas alturas, nas dores, aonde
ninguém se aventura, só tu guerreira, mulher ave, leve.
Teu fôlego é
impressionante e impressionável, também mergulhas, quando queres, perfeitamente
adaptável aos mares insondáveis, nunca dantes navegados, meio mulher, meio ave,
meio peixe, sereia, peixe voador, seria, mais apropriado chamar-te, em tal
profundidade aonde só são observáveis os peixes abissais, com seus corpos
brindados, iguais ao teu, guerreira, que aguentam pressões absurdas,
temperaturas incalculáveis e no entanto nada dizem, reclamam, como que
acariciados no ambiente adverso, simplesmente pairam, calmos,
tranquilos, esguios, encantam, fascinam, até produzem luzes próprias que nem
vaga-lumes de um céu ao contrario, no breu dos mares, no frio extremo onde nada mais sobrevive.
E já és vitoriosa, guerreira, vivo te dizendo, te proclamando, só sendo agora o que és.
Mas com teu jeito versátil, dinâmico, não paras, não te dás por satisfeita, vencida, sempre
inventando, se superando... És uma sobrevivente, guerreira, da mesma feitura dos metais
preciosos, pérolas, pedras raras, valiosas, emergentes dos fundos dos rios, da
profundeza hostil da terra, do barro, que não se compara a
qualquer seixo, pedregulho, cascalho e que devem ser guardados a sete chaves,
com todo cuidado e zelo, porque são difíceis de tê-los e encontrá-los.
Fábio Murilo, 04.12.2016