sexta-feira, 29 de abril de 2016

A Naúsea


Quero cuspir esse gosto amargo,
Esse travo de descontentamento.
A ausência de perspectivas,
O pessimismo coerente,
Meus pés, minhas mãos, 
Nessas invisíveis correntes.

Esses dias em banho-maria,
Nem ao menos um assomo,
Apático, a vida mais ou menos,
Sobrevivendo, quando muito, de fato,
E sendo satélite de mim mesmo.

Quero meus sentimentos vivos,
Exposto ao sol do meio-dia, 
Como uma humilde reação de protesto.

Fábio Murilo, 29.04.2016  

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Aos que tão bem se combinam


Minha alma gêmea, gentil, germinada,
De repente acredito em destino, sina.
Desses encontros sem hora marcada,
Em desencontros que não dão em nada,
E mais ainda, em outros encontros.
Certas tramas que a gente engana,
O que se procura tanto, por encanto,
Quando menos se espera nos alcança.

Minha metade da laranja, cara metade,
Extremamente assemelhada, achada.
Minha outra parte dissociada, refletida.
O que digo, por ti, já foi dito,
O que pensas, por mim, foi previsto.
Onde andavas, que não te conhecia antes,
Onde estavas que não me havia visto.

Fábio Murilo, 21.04.2016


sexta-feira, 15 de abril de 2016

Sedução

 
Teu trunfo é tua beleza,
Feito cerejas à tarde.
E cegas mil sóis
Com o farol da face.
Aragem, penugem,
Teu corpo esculpido
Por ventos alísios, 
É nuvem, é brilho,
É vidro, seixo polido
Por águas incontáveis.
A vida te fez suave.

Fábio Murilo, 02.04.2016