sexta-feira, 17 de março de 2017

Aos que Nunca se Permitem


Alguns não tem sol, nem sal,
Cheios dos nexos, excessivo tino.
Espécie sem sumo, formal, formol.
Poste, lodo, o tempo todo rodovia
Margeada de verdejante monotonia.
Sem uma parada no acostamento,
Um desvio, uma descida, um atalho.
Uma pausa pra um refrigerante.

Reprisados, represados, sonolentos,
Que de olha-los também dormimos.
Seres apagados, que não ardem,
Sem alarde, fio de voz, nem animo.
Que não variam de vez em quando
E envelhecem o tempo inteiro.
Que não saem do contexto,
Seguem uns textos decorados,
Atores com seus bolores, odores,
A eles mesmos representados.

Sem luzes nos cabelos, no corpo inteiro,
 Uns gelo, amenos, somenos, ao menos, jamais!
Rosas sem perfume, artificiais.

Fábio Murilo, 18.03.2017

8 comentários:

Tais Luso de Carvalho disse...

Hum... conheço esse ranço de bolor, tá cheio! Gente acomodada, gente pacífica diante da miséria de sentimentos. E assim seguem, fazem escola. Mas é fácil cair fora...
Há muita coisa escancarada nas entrelinhas do teu belo poema, Fábio. Arrasou!
Beijo, querido amigo, um ótimo fds.

Cidália Ferreira disse...

Fantástico... Maravilhoso.. Amei

Beijo, bom fim de semana.

Carmen Lúcia.Prazer de Escrever disse...

Fábio,encontramos muitos por aí sem sal e desfigurados,pela maledicência,acomodados,e tocando sempre na mesma tecla,embolorados talvez,por não se ocuparem de coisas reais.
Adorei ler.
Bjs,obrigada pela visita e um ótimo domingo.
Carmen Lúcia.

Maria Rodrigues disse...

Palavras fortes, infelizmente existem tantas pessoas assim.
Um poema sublime!
Bom fim de semana
Um abraço
Maria

Priscila Rúbia disse...

O curioso é que justamente hoje, estava eu ouvindo a poderosa Flores do Titãs, com sua instigante frase final: "As flores de plástico não morrem" O que tem isto haver com seu poema? Tudo haver. Dado que flores naturais apesar de depender da chuva sofrem com as chuvas, apesar de depender do sol sofrem com o sol, criam espinhos para defender-se de ambientes repleto de assédio ou desencanto, podem ser colhidas e murcharem a qualquer momento... Já as flores de plástico estão isentas da dor, da sensibilidade, do perfume, de enfeitar cabelos... algo entre aparência versus realidade... Já fui mais crítica em relação a isso de nós humanos, hoje em dia, não mais. Por um simples motivo: sou humana também. Lembra-se você das últimas palavras de Sócrates quando vê-se condenado a cicuta: Mas eis a hora de partir: eu para morte, vós para a vida. Quem de nós segue o melhor rumo ninguém o sabe, exceto os deuses. O Cristo bíblico diz algo na mesma linha no seu calvário: Filhas de Jerusalém, não choreis por Mim, chorai antes por vós mesmas e pelos vossos filhos. Porque se tratam assim a madeira verde, o que acontecerá à seca?
Eu sempre questiono-me, o que fez com que estes grandes homens sábios, defensores da liberdade e da vida mais pura, falassem dessa mesma vida que defenderam com suas próprias, com tanto pesar?

O preço de uma vida 100% pura é alto demais, como vemos na história humana dos poucos que se propuseram vive-la... quem está realmente disposto a pagar esse preço?

Meu Olá
=)

Helena disse...

Infelizmente estamos sempre a nos deparar com pessoas assim, que frequentam a vida sem dela participar, inativos, apáticos, como se viver doesse na alma. É como bem disseste “seres apagados, que não ardem” e que estão sempre a envelhecer o tempo todo. Só de olhá-los, dá para ver que seguem “uns textos decorados, atores com seus bolores, odores”, representando a si mesmos...
Fábio, meu querido, que poema mais instigante! Sente-se nele a marca da tua genialidade. Grata por mais este presente que vieste ofertar para apreciação dos teus amigos/leitores.
Fica com meu carinho num sorriso e numa estrela,
Helena

Carol Russo S disse...

Realmente querido amigo, muitas pessoas vivem, para bem dizer, por viver. Não contribuem, não agregam em nada. E o pior de tudo é que sempre acham problemas para os quais nunca têm solução. Ôh vida sem graça! "O tempo todo rodovia margeada de verdejante monotonia" exatamente!!!
Parabéns pelo lindo poema, muita saudade daqui!

Mente Hiperativa disse...

Pode parecer simples se permitir, mas se pensarmos com calma todos nós tivemos receio um dia. Assim como provavelmente todos nós tivemos também decepções, machucados e feridas causadas pelo ato da entrega.

Que bom seria se as pessoas fossem mais transparentes e sinceras, mais altruístas a ponto de evitar qualquer má impressão ou indelicadeza capaz de ferir o outro. Deveríamos condenar menos e compreender mais aqueles que têm dificuldade de se entregar.

Pode acreditar, eles agem assim forma por medo, às vezes decorrente de experiências passadas tão marcantes que os impedem de buscar a felicidade plena. Imaturidade, pura inabilidade de acessar os pontos dolorosos, receio de sofrer. Então acabam sofrendo de uma forma diferente.

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