sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Pacato Cidadão


Há a resignação em ser comum,
De ser apenas mais um na multidão.
De não oferecer riscos, só risos fáceis.
De ser um cão adestrado, obediente,
Como toda gente, indiferente.

Há de se polir bem a armadura,
Escovar os dentes, sorrir sempre,
Riso de dançarina de auditório.
Mostrar-se previsível, decifrável,
Plausível, jamais contraditório.

Manter-se sempre alerta,
Pra não deixar a porta aberta,
O quadro torto, o mato alto,
Chegar atrasado, espirrar...

Reto como um poste,
Discreto como um poço.

Fábio Murilo, 14.11.2014

40 comentários:

Carol Russo S disse...

Gosto dos seus poemas porque sempre ao final da leitura me pergunto: qual o objetivo? Leio de novo, talvez três vezes mais e sempre me surpreendo como se na primeira vez com as ótimas colocações que você faz. As rimas são complexas, a mensagem reflexiva.
Estamos sempre sujeitos ao cotidiano, ao que a moral nos impõe. Talvez o que buscamos ser (ou somos induzidos a buscar) nos transforme em exatamente o oposto...

Tais Luso de Carvalho disse...

Assim nos quer a sociedade, bom moço, discreto, simpático e submisso! É bom pra todos quando acatamos tudo, né Fábio? Se deixarmos no moldar, amigo... nem te conto! E assim caímos num contorcionismo para escapar desse ou daquele.
Alerta!! Olhos atentos para não virarmos água de poço, calma, parada, inerte.
Grande Fábio!
bjus.

Shirley Brunelli disse...

Fábio, você retratou muito bem a maioria dos seres humanos...Somos verdadeiros robôs.
Beijos!

" R y k @ r d o " disse...

São as aparências da vida...dificilmente se consegue fugir a elas...em todos os momentos da vida

Bom fim de semana

Deixo cumprimentos

Estou por aqui:
http://pensamentosedevaneiosdoaguialivre.blogspot.pt/

Patrícia Pinna disse...

Bom dia, Murilo. Ninguém consegue ser assim sempre.
Não somos pessoas robotizadas que apenas mostram a superficialidade do eu.
Somos sim, seres pensantes, que amam, se entregam, erram demais e que nem as aparências conseguem disfarçar o que realmente faz parte da nossa essência.
Muitas vezes a educação confunde-se com o ser de cada um, mas não é assim.
Todos têm características de personalidade diferentes e as mesmas devem ser respeitadas, ao menos, toleradas.
O bom convívio faz-se necessário, mas não a ponto de ficarmos cegos para tudo.
Parabéns!
Belo poema!
Beijos na alma e lindo fim de semana.

Cidália Ferreira disse...

Boa tarde Fábio
Gostei de ler:
Mas quem vive de aparecias não o conseguirá fazer sempre, um dia a mascara cai.

Bom fim de semana
Beijos

http://coisasdeumavida172.blogspot.pt/

Laura Santos disse...

As pessoas previsíveis às vezes são tão aborrecidas...no entanto tantas vezes temos de fazer esse papel de patetas sorridentes, sorrindo só porque sim, só porque é o que se espera de nós.
Gostei muito dos últimos versos do poema:
"Submisso, bom moço
Reto como um poste
Discreto como um poço"
Bom fim de semana, Fábio!
xx

Fábio Murilo disse...

Ótima conclusão Carol, é isso ai. Obrigado.

Fábio Murilo disse...

Bela e apaixonada dissertação, Tais. É isso mesmo, "assim, caminha a humanidade", Obrigado, Beijos!

Fábio Murilo disse...

É mesmo, Shirley, autômatos, dirigidos, por modas, receitas e modos. Obrigado, Beijos!

Fábio Murilo disse...

Concordo em parte,Ricardo. Quando não incomodam, não tolhem nossa liberdade, não há porque reagir. Mas tem horas reagir quando somos levados como rebanho ao matadouro, quanto somos manipulado como marionetes. Obrigado.

Daniel C.da Silva disse...

Um dos mais bonitos posts que li por aqui. Simplesmente muito bem escrito e verdadeiro.

Grande abraço

Luria Corrêa disse...

E raso e oco como madeira inutilizada!
Adorando tê-lo descoberto. Devorando. Lendo.
Abraço!

Fábio Murilo disse...

Será? Pat. Acho que apenas alguns se dispõem a esticar o pescoço e olhar pro cima. Que enfrentam as criticas, os preconceitos, as hostilidades de serem eles mesmos. De rirem espontaneamente, de brincarem nesse mundo serio, de estarem acima da média. Obrigado.

Fábio Murilo disse...

Oi,Cidália. Não se pode fingir o tempo todo, é certo. Obrigado.

Fábio Murilo disse...

Ah é, complicado. Tipo uma musica de Djavan, poema de Chales Chaplin: "Sorri vai mentindo a tua dor e ao notar que tu sorris todo mundo irá supor que és feliz", e por ai. Obrigado, Laura

Fábio Murilo disse...

Isso mesmo. Ah, obrigado, Luria, por tão entusiasmadas e estimulantes palavras, que bom! Volte mais vezes, será sempre bem vida! Abraço!

serra de alencar, gabriela disse...

O ser comum beira a mediocridade. Que saibamos nos libertar!

Helena disse...

Fábio, lembrei-me de uma canção que o Djavan canta (não sei se é composição dele) e que diz assim:
Sorri
Vai mentindo a tua dor
E ao notar que tu sorris
Todo mundo irá supor
Que és feliz
E é isto, amigo, que a sociedade quer da gente, sorrir sempre, pois poucas são as pessoas que querem uma convivência verdadeira, preferem as pessoas robotizadas que vivem de acordo com os padrões estipulados pela sociedade. É muito difícil a convivência com pessoas assim, principalmente para quem tem o espírito mais livre, que não segue as regras engessantes de uma sociedade hipócrita. Estas pessoas sofrem o ônus de serem elas mesmas, de agirem de acordo com os próprios critérios, mas que respeitam sim, o semelhante, sem no entanto ceder às pressões impostas. São livres, por assim dizer, e muitas vezes olhadas de lado, justamente por agirem de acordo com a própria consciência.
Um poema altamente reflexivo, e que nos faz questionar nosso próprio papel e nossa posição no meio que habitamos.
Como sempre, meu amigo, tu nos colocando a pensar...
Que tua semana tenha sorrisos, tenha estrelas e também muitos momentos de intenso sonhar,
Helena

Anônimo disse...

Muito interessante este teu poema Fábio!
Inteligente e reflexivo...
Cheguei um pouco atrasada, mas amei estar aqui, ler os comentários, a posição de cada um diante do teu escrito!
Tudo aqui está de alto nível!
Sem mais!

Beijos no coração!
Desejo lindas inspirações pra ti!

Fábio Murilo disse...

Obrigado, Daniel, me deixa lisonjeado ouvir isso de um escritor de sua qualidade. Muitíssimo Grato!

Pérola disse...

Há que fomentar, valorizar as diferenças.

O comum parece fácil, mas será na verdade?
E existirá?


Belo poema.


Beijo

Bandys disse...

Gostei da sua escrita,mas não me vejo assim não.
Nunca fui pacata muito ate pelo contrario.
E como diz por aí é facil ser o outro difícil é ser eu.
Beijo

Fábio Murilo disse...

Ótima sua analise, Helena. É isso mesmo. Obrigado.

Fábio Murilo disse...

Oi, Fê! Obrigado. Chegou atrasada nada, rs.. A hora que chegar será sempre bem vinda. Que bom que marcou sua presença e abrilhantou o espaço. Obrigado pelas amáveis e oportunas considerações, volte sempre. Beijos!

Fábio Murilo disse...

Disse tudo, Gabi, com extrema coerência, bem observado. Obrigado.

Fábio Murilo disse...

Ainda bem, Bandys, bom que tenha cavado e defenda seu espaço,sua conquista. Beijo.

Fábio Murilo disse...

Boa, Perola, levantou outras possibilidades, viu a coisa de um prisma inusitado. Obrigado. Beijos!

Dentro da Bolha disse...

Que bonita. Gostei!

dentrodabolh.blogspot.com

Vitor Costa disse...

Parabéns por mais um provocante e alarmante poema Fábio!! Por isso que as escolam e as famílias ensinar a pensar e não a apenas obedecer.
Abraços caro.

Vanessa M. disse...

Excelente poema, Fábio.. muito autêntico. Hoje em dia, a maioria das pessoas age exatamente dessa forma..

Seu poema me lembrou de uma citação de Oscar Wilde: "Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe."

Um abraço

Laila Souza disse...

Em pensar que tanta gente "vive" assim...
Fábio,como sempre você escrevendo sobre temas que permeiam nossa existência,e sempre de maneira inteligente.Parabéns por esse texto e por todos os outros.

Fábio Murilo disse...

Obrigado, conterrânea.

Fábio Murilo disse...

Obrigado, grande Vitor Costa, é sempre uma honra sua presença..

Fábio Murilo disse...

Obrigado, elegante Vane. Oportuna citação, somou. Abraço.

Fábio Murilo disse...

Há quanto tempo, Laila. Pois é, "vive" passa-se pela vida. O cotiano vai nos tragando, nos envolvendo em suas teias, nos sufocando em sua camisas de forças, enquanto a vida vai se gastando. Obrigado pelas gentis palavras, menina. Apareça mais vezes... Obrigado.

vida entre margens disse...

Cumprir regras, cumprir destinos...abdicarmos da nossa própria alma, para sermos mais um entre tantos...actuarmos em manada!!
É isto infelizmente o que a sociedade nos pede. São estes os padrões que nos incutem desde que nascemos.
Mas felizmente podemos reverter tudo, se nos aventurarmos a ser nós próprios....
Obrigada por dizeres tanto, de uma forma tão bela...!
Abraço

Fábio Murilo disse...

É isto, Cristina, disse bem! Obrigado.

Lucemar Rodrigues disse...

A temática do poema é bastante densa. Seus argumentos poéticos são fortes e reflexivos. É muito triste quando nos transformamos em caricaturas de gente, marionetes, quando o cotidiano aprisiona e estigmatiza seres humanos e os priva de viver. A imagem utilizada para ilustrar o texto é sensacional. Parabéns!

Fábio Murilo disse...

Analise muio forte.Obrigado, Lu pela visita. Você é sempre bem vinda! Obrigado!

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