sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

A Mulher Simples



Ela “não esquenta com nada”,
Não antevê. Só espera da vida
O que lhe foi destinada, mais nada.
Não tem rugas no rosto,
Nem expressão de desgosto,
Apesar da meia idade.
Sempre calma, sem susto,
Resignada com tudo.
Não tem maiores aspirações,
Suas ambições não vão além
Das limitações do quintal.
Não vive pensando na vida
Inevitável sucessão de dias,
Um dia após o outro, afinal.
É feliz dessa maneira, ou seja,
Sem desejo não há tristeza.
  
Fábio Murilo, 08.12.2014

42 comentários:

Teresa Brum disse...

Eu seria imensamente infeliz assim.
Gosto de sonhar, desejar, bom demais estar viva.
Lindo e instigante seu poetar caro amigo Fabio.
Um abraço e bom final de semana.

Shirley Brunelli disse...

Querido Fábio, deve ser bom viver sem rugas e sem ansiedade. Porém, essa mulher precisa crescer interiormente, participar, ousar, lutar por uma vida e por um mundo melhor.
Contudo, o poema é muito bom.
Beijo!!!

Fábio Murilo disse...

É o preço que pagamos, vamos nos gastando feito umas velas, ganhando mais cabelos brancos. Mas, concordo com você, teoricamente, devemos agir e no portar assim, mas, se essa mulher está bem... Sei lá, felicidade é um conceito tão abstrato. Beijos!

Fábio Murilo disse...

Eu também Maria Tereza, vivo angustiado e ansioso porque sempre quero, sempre espero, sempre tou exercendo meu senso critico, sempre questiono, desfaço e refaço a vida em novo arranjos. Estar vivo é um misto de alegria e tristeza e se expor a tristeza, é dar a cara a tapa. O hindus dizem a causa da nossa tristeza é o desejo, por isso estacionaram, vivem numa linha de pobreza inadmissíveis aos nossos olhos olhos ocidentais e capitalistas. Mas é outra cultura, ou valores já aprendidos desde sempre. "A Mulher Simples" é feliz dessa maneira irritante, como ela consegue? Mas, é feliz aceitando a vida como ela é. Vivendo segundo "o filosofo" popular Zeca Pagodinho, "Deixa a vida me levar, vida leva eu". Obrigado.

Carol Russo S disse...

Fábio, como eu gostaria de ser assim. Sem sofrer por antecipação, sem prever - ou tentar - tudo o que me envolve. Admiro mulheres assim e creio que todas adquirem certa habilidade com a experiência que vamos ganhando ao longo dos anos. Creio que cada uma de nós contem uma mulher simples dentro de si.

Luria Corrêa disse...

Fábio, muito me alegra em saber que minha singela opinião tenha sido acatada por você e a tenha transformado em algo tão belo e sutil. Eu acho que um sambinha cairia bem pra essa moça. Consegue imaginar comigo, lá ela com seu radio à pilhas enquanto olha pela janela da cozinha e espera a comida ficar pronta?

Foi apenas um devaneio.
Abraço :)

Cidália Ferreira disse...

As vezes sinto-me assim, como ela!! Gostei

Bom fim de semana
Beijo

http://coisasdeumavida172.blogspot.pt/

Fábio Murilo disse...

Tu é minha irmã, Carol? Eu sofro com antecedência de uma ano até, rs... Acho que sozinho tá pouco, sofro pelos amigos, vai uma ansiedadezinha ai? Com cobertura de adrenalina prá variar? Com noite mal dormida e tudo, pensando na "morte da bezerra"? Rs. Como diz Caetano: "Cada um sabe a dor e a delicia de ser o que é". Obrigado, menina com os nervos à flor da pele feito eu, Rs.

Fábio Murilo disse...

Pois é, Luria. E acontece. Rs. Soube de um caso assim. Rs. Uma vez por mês, na repartição onde eu trabalhava, a gente costumava comer uma coisa diferente e encomendava, quando o pagamento saia, a uma senhora que morava numa favela ao lado, Dona Lia, algo para almoçar, tipo: peixada, feijoada, mão de vaca, dobradinha... Fazia uma "vaquinha" e dava o dinheiro pra ela comprar, essas coisas bem populares e "light" Rs... Numa dessas vezes uma colega de sala foi na casa de Dona Lia e avisou que podia trazer o almoço, voltou dizendo que ela parecia uma "doida", dançando sozinha em casa, ouvindo um rádio de pilhar. Que dizer, essa anti-heroína, morava numa habitação simples, feito ela, não tinha carro na garagem, nem maiores ostentações, de onde vinha tanto bem estar, tanta felicidade?! Felicidade, então, confirmando o dito popular, parece mais que é um estado de espirito, afinal, é uma maneira de olhar e se posicionar no mundo. Não se entende, se sente e pronto. Obrigado, moça do sorriso largo, com cara de felicidade. Abraço!

Fábio Murilo disse...

É mesmo, Cidália. Obrigado.

Carol Russo S disse...

Devemos ser, viu Fábio? Eu sou tri ansiosa. Não consigo dormir, comer, sinto dores abdominais e tenho até que tomar remédio para o estômago e os motivos nem sempre são plausíveis: vai entender!

Fábio Murilo disse...

O médico diz que isso tem uma causa comum: estresse. Essa dores são devidas a isso, são as chamadas doenças de fundo emocional, sem um motivo físico, psicossomáticas. Somos dois, então. Faz parte o temperamento.

Laura Santos disse...

Não sei se não esquentar nunca, seja bom. Às vezes temos de insurgir-nos contra o que parece estar-nos destinado sem direito a opção; homem ou mulher. No entanto existem mulheres (e homens) que acatam tudo, e esse é o tudo para eles, e basta-lhes. É como dizes, "sem desejo não há tristeza". Mas eu considero que uma vida sem desejo, sem almejo, sem sonho, não é verdadeira vida.
Que exista é muito desjo, e muitas rugas, também. Viver apenas um dia atrás do outro, soa-me a "anestesia" conformista, contudo, cá está, todos somos diferentes, e os padrões de felicidade variam de pessoa para pessoa.
Muito bom poema, Fábio, que daria para mangas.
Bom fim de semana!
xx

Patrícia Pinna disse...

Boa noite, Murilo. Parece um paradoxo teu poema em termos de emoção.
Ser tranquila, não se preocupar pode parecer que a vida está calma, mas será?
Nem sempre essa utópica tranquilidade nos faz bem, uma vez que a vida é ação.
A resignação somente nos cabe quando não podemos fazer absolutamente nada, depois de lutarmos incansavelmente.
Não creio que ela carregue consigo a plena felicidade, não demonstra amor a si mesma.
Interessante e forte poema, muito real.
Tenha um fim de semana de paz.
Beijos na alma.

Fábio Murilo disse...

Talvez o não se esquentar nunca, possa significar não sofrer com antecedência, Laura. A tranquilidade dessa mulher também não me apetece, vivo como aqueles animais do jardim zoológico, já reparou, em seus cúbicos que chamam de jaula, de um lado pra outro, ziguezagueando aflito. Mas, vai ver que ela é discípula de Alberto Caeiro: "Falas de civilização, e de não dever ser, ou de não dever ser assim. Dizes que todos sofrem, ou a maioria de todos, com as cousas humanas postas desta maneira. Dizes que se fossem diferentes, sofreriam menos. Dizes que se fossem como tu queres, seria melhor. Escuto sem te ouvir. Para que te quereria eu ouvir? Ouvindo-te nada ficaria sabendo. Se as cousas fossem diferentes, seriam diferentes: eis tudo. Se as cousas fossem como tu queres, seriam só como tu queres. Ai de ti e de todos que levam a vida a querer inventar a máquina de fazer felicidade!" Obrigado, Laura.

Fábio Murilo disse...

E existe nessa terra, por acaso, felicidade plena? O que é bom para o operador da bolsa, não parece nada interessante para o monge tibetano que passa o dia no templo a meditar. O que faz feliz o homem civilizado, não o faz ao índio na selva amazônica. O que preocupa a um, a outro é indiferente. Parece que tou vendo ela: Essa mulher se realiza em meio ao seus afazeres domésticos, faz tudo com amor, porque gosta do que faz, tem emoção, não sei se se sentiria melhor noutro canto, talvez fosse infeliz, cada um na sua. Obrigado, Pat.

Si Lima disse...

Viver sem desejos não há tristeza, não há emoção, não há realização, não há dor.
Temos momentos de tranquilidade e felicidade apesar dos sofrimentos, e talvez seja por isso, que quando nos sentimos felizes, é mais verdadeiro.
Muito bom, Fábio! Você dá as mãos às palavras. Elas sempre te acompanharão!

Beijoo'o

Tais Luso de Carvalho disse...

"Sem desejo não há tristeza".Pois é, Fábio, pra mim a moça do poema é feliz, assim, na sua simplicidade, sem conhecer o luxo de uma vida muitas vezes equivocada. Quem adquire e perde é que se torna infeliz; quem conhece o outro lado da vida é que pode lamentar. Não digo que a moça do poema não gostaria de ter algo como uma casa grande etc, mas não me parece que sofre por não ter. Na simplicidade há alegrias que muitas vezes nós, que estamos acostumados a um certo bem-estar maior, não conseguimos ver.
Nunca esqueci de uma empregada minha que certo dia me disse que não trocaria a casa dela pelo meu apartamento grande. "Eu gosto da minha casa, disse ela". Não trocaria.
Um dia fui levá-la em casa... Ela morava numa vila, 4 peças marido e 3 filhos. No início não conseguia entender, era difícil... Só sei que era feliz daquela maneira.
Beijo!

Ariana Coimbra disse...

Eu nunca hei de querer ser uma mulher simples Fábio!rs
Não no sentido de ser acomodada, eu sempre busco coisas novas. Sou uma eterna "insatisfeita", ou talvez esteja só querendo o melhor da vida sempre.
Mas conheço mulheres assim, "felizes" no seu mundinho;

Beijos

Fábio Murilo disse...

"Quem adquire e perde é que se torna infeliz; quem conhece o outro lado da vida é que pode lamentar". Poxa, Tais. Quer que eu digo. Digo nada, disse tudo. Perfeito! Beijos!

Fábio Murilo disse...

É. Eu não consigo ser assim. Mas se ela é feliz, tudo bem, não é isso que perseguimos a vida toda, motivo de tanta ansiedade, angustia, tristeza. Quem ousaria tentar mudar seu jeito? De outro jeito certamente seria infeliz. Que cada um viva sua vida, do que jeito que lhe aprouver. E viva as diferenças. Obrigado, Simone Lima. Beijos!

Fábio Murilo disse...

Tudo bem. Rs. Eu até já compus uma vez um poema assim, "Razões de um Eterno Insatisfeito", que explicitava um mal estar no mundo, essa inconstância, essa ânsia de mudança. Mas cada um no seu quadrado como diz uma musica popular. Obrigado, Ari, Beijos!

Ariana Coimbra disse...

Por nada! Respondi teu comentário la no blog, vai lá ver!
Ah, você tem facebook?

Unknown disse...

Seria tão bom se eu fosse simples em certas situações e mais exigentes naquelas que necessitam o feito.
Mas, acho que nunca serei uma mulher simples. Estou contente com o que já conquistei, mas não quero uma zona de conforto, quero sempre mais rs.
Amei a poesia.
Abraços Mika,
Pensamentos Viajantes

Anônimo disse...

... é amigo cada um tem seus motivos, razões de viver da maneira que vive...
Realmente alguém que não se entrega pra vida, pros sonhos, poupara grandes esforços...
Os sonhos e desejos é o que nos move...

Seu poema ficou ótimo, muito bem escrito...
Conseguiu desenvolve-lo de forma esplêndida!

Beijos!

vida entre margens disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Daniel C.da Silva disse...

Quantas vezes uma vida sem grandes ambições vivida na simplicidade de tudo não é a mais bela?

Muito bem escrito.

Um frte abraço

Vitor Costa disse...

Fábio, depois da conversa que tivemos no Facebook, foi inevitável não te enxergar com novos olhos, olhos de um grande sábio, de um grande conhecedor da vida, e as coisas fizeram mais sentido rs Quem me dera ser tão simples como essa mulher ou como Alberto Caeiro. Eu vivo sofrendo com minhas inquietações existenciais, questões que afetam a minha felicidade... Eu queria não me importar, queria não ser tão autoconsciente, ser como o meu cão, alheio à vida e às preocupações que criamos.
Uma curiosidade: Por que apagou o poema anterior, estava excelente, não que esse não esteja tão bom, é um poema brilhante como todos os seus, porém, o anterior me tocou mais.
Abraços Caro Amigo

Anderson Lopes disse...

Deixar que a vida passe sem que toquemos nela pode ser a receita para a felicidade. Mas o bom mesmo é lambusarmos de tudo o que ela pode nos oferecer. Belo poema!

Fábio Murilo disse...

Assim fazem os jogados, Anderson, que nunca estão satisfeitos com o que conseguiram, como que compulsivamente, apostam mais alto, tudo ou nada, e podem perder tudo numa jogada, ou ganharem o dobro, o triplo... Questão de coragem, audácia, opção de vida, ou resignação, cada um sabe o que faz de sua vida. A quanto tempo... Apareça mais vezes.

Fábio Murilo disse...

É isso ai, Fê. Muito elegante e generosa em seu comentário. Ponderou sobre os dois lados e fez uma media justa. Gostei quando disse: "Os sonhos e desejos é o que nos move" muito sabia. Obrigado, beijo!

Fábio Murilo disse...

Poxa muito obrigado, Vitor. Sou exatamente feito você nessas questões existenciais, nesses questionamentos desde pequeno. E isso que falou sobre seu cachorro me lembrou um pensamento que tenho num livro em casa , que diz: "O cachorro só é feliz porque não conhece a felicidade". Obrigado pelas considerações de louvor ao meu respeito, também te acho um menino prodígio. Ah quanto ao poema que retirei, te preocupa não, voltarei a posta-lo, obrigado pela força. Abraço!

Fábio Murilo disse...

Pode ser, pode ser... Ser feliz de repente, é uma atitude mental, ou aceitar-se do jeito que é, não ter tudo que se quer,mas ser feliz com o que tem. Obrigado, Daniel. Abraço.

Fábio Murilo disse...

Interessa filosofia de vida, Cris, algo a refletir. Calou fundo suas palavras. Obrigado. Beijos!

Fábio Murilo disse...

É, pra isso somos educados a competir, a ir sempre em frente, se conformar é se acomodar. Sem contar os viciados em ganhar dinheiro, em trabalho, que juntam e não tem tempo de gastar, de viver. O que não é o nosso caso, Mika, também penso feito você, mas devemos ter cuidado com os excessos, não importa a situação, equilibro em tudo. Obrigado.
Abraço!

vida entre margens disse...

Muito havia para dizer sobre o que aqui quiseste transmitir.Não me vou alongar porque estou no tlm e isto não dá jeito nenhum. Se pensássemos que a vida nada nos deve, e que tudo o que temos é uma dádiva à qual temos que estar gratos seriamos muito mais felizes e viveríamos o presente com muito mais intensidade. De contrário desperdiçamos a vida a querer controlá.la quando afinal é ela quem dita as regras.....
Beijinho Fábio....a verdadeira sabedoria consiste em não resistir e deixar a vida acontecer....

vida entre margens disse...

Removi o comentário , porque tinha erros ortográficos. Voltei a enviá-lo corrigido.
Peço desculpa Fábio, mas digitalizar no telm não dá bom resultado....

Fábio Murilo disse...

Foi? Nem tinha notado, poetisa, tudo bem. Não há o que desculpar, só agradecer suas atenções e consideração. Obrigado. Beijos!

Teresa Brum disse...

...isso de deixar a vida me levar, não é comigo, nem gosto de cantar esta música, dá até medo dela ficar em meu subconsciente e daí ninguém salva mais, gosto mesm é de ir a luta, de buscar por tudo que quero, detesto coisas que chegam do nada.
Bom não é Fabio Murilo, ir e conseguir? Bom demais, não importa se quebrar a cara ou apanhar, mas depois de conseguir, que delícia que é...um abraço.

Fábio Murilo disse...

Rs... Há musicas que grudam realmente, foi me lembrar dela, agora ficarei cantarolando mentalmente o resto da tarde, certamente. Não gosto muito de samba, mas esse é um sambinha até legal, acho. Mas o que você falou é interessante realmente, inspirador. Penso igual, é que esse conceito de felicidade é tão relativo, tão pessoal, que não podemos radicalizar. Cada um que encontre seu caminho. O importante é estar bem, em equilíbrio. Abraços!

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

na simplicidade também podemos ser felizes!
muito bem!
:)

Fábio Murilo disse...

É. De repente a gente é que complica tudo. Obrigado, Piedade.

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