sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Da Inútil Pretensão



Não se envolta, não se remova pro outro.
Só ame a si próprio como fazem os caracóis,
Que, hermafroditas, bastam-se a si próprios.
Seja sócio de si mesmo, sem conflitos.
Ouça seu próprio grito ecoado nas pedras.
Congele eternamente como as geleiras,
Que mil sois, a muitas eras, não derretem.
Seja um poste na esquina a sustentar
Uma luz fria rodeada de mosquitos.

Vá exercitando, que talvez, com tempo,
Se transforme numa pedra de calçamento.
Ou se conforme, se não conseguir sê-lo,
A ser, como todos, uma pedra de gelo,
Que se dissolve ao menor toque.

Fábio Murilo, 25.01.2015

32 comentários:

Cidália Ferreira disse...

Fabuloso poema!

Beijo...Bom sábado!

http://coisasdeumavida172.blogspot.pt/

Carol Russo S disse...

A última estrofe resume tudo. Não tenho mais o que dizer, senão que a tua poesia foi forte o bastante para dizer tudo o que tenho, por vezes, entalado goela a baixo.
Estou buscando ser uma pedra de calçamento, cansei de ser esse gelo que se autodestrói.
Lindo!

Girotto Brito disse...

Poema de tirar o chapéu. Fico feliz em encontrar seu blog, são raras as páginas com conteúdo bom de se ler como essa sua. A Carol acertou no comentário: "A última estrofe resume tudo". Abraços!

O Poeta e a Madrugada

Si Lima disse...

Das inúteis pretensões, muitas coisas são feitas, muito se tranforma. Inclusive nós mesmos.
Você é surpreendente! Sempre que vejo o nome do blog, sorrio. Já sei que o que irei ler e sentir por aqui impede que ela, a poesia, de fato morra!

Beijoo' ;*

Laura Santos disse...

Ah essa vontade de ser durão. De ser duro como uma pedra. De querer bastar-se a si mesmo, de não querer envolver-se apenas pelo medo de sofrer... A sensibilidade a querer proteger-se do desgosto, a vulnerabilidade a não querer demonstrar fragilidade. E no entanto, bastará um pequeno gesto, acontecimento, ou circunstância, para que a pedra amoleça, para que o gelo se derreta.
Um dos melhores poemas que já li por aqui. Parabéns, Fábio!
xx

vida entre margens disse...

Oh Fábio!! É assim que anda a humanidade, cada vez mais desumanizada.... todos pensam que não precisam de ninguém, que se bastam a si próprios, e vão-se distanciando cada vez mais dos afectos , transformando os corações que guardam no peito, em pedras de gelo.
Acho que isto é como uma bola de neve, as pessoas protegem-se para não sofrer, mas ao se protegeram do mal, também se protegem do bem, e acabam por se tornarem herméticas, sofrendo e sofrendo mais ainda, do que se vivessem abertas para o mundo.
Gostei demais deste poema, apesar da dureza das pedras,há a docilidade de uma alma poética que transborda a emoção contida nas entrelinhas...

Beijinho e boa semana

Fábio Murilo disse...

Obrigado, Cidália. Beijos!

Fábio Murilo disse...

Forte foi teu comentário, Carolzinha. Já eu sou uma pedra de gelo, irremediável, uma manteiga derretida, sentimental demais! Rs. Beijos!

Fábio Murilo disse...

Obrigado, Dênis, pelas gentis observações. Abraços!

Fábio Murilo disse...

Pois é, Laura, disse tudo como geralmente faz. É morrer de tédio ou padecer estressado, prefiro a montanha russa da segunda opção. Isso é, se fosse possível ser a primeira. Obrigado, sempre gentil poetisa.

Fábio Murilo disse...

Num é menina, tenha esse pensar. Ainda bem que estava redondamente enganado. A poesia está entranhada na vida. Poesia é vida. Obrigado, sempre delicada, Simone.

Fábio Murilo disse...

Pensam assim, Cristina, acham que conseguem, tentam se convencer disso, enganar a si próprios, "Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam". Sentimento não se controla, coração é território sem dono. Obrigado, amável poetisa. Beijos!

Teresa Brum disse...

Maravilhoso, instigante, me faz pensar e muito em tanta coisa...
Um abraço Fabio Murilo e parabéns pelo talento ímpar que você tem.

Helena disse...

Fábio, meu amigo, realmente inútil essa pretensão de se querer isolar, bastar-se a si mesmo, pouco ou nada ligar para os que junto de nós caminham. Somos seres gregários, necessitamos uns dos outros em todas as esferas de nossas vidas, nunca nos bastaremos. E é bom que assim seja, pois homem nenhum é uma ilha, desculpe o clichê, mas cabe perfeitamente nesse teu magistral poema.
Voltando às lides blogueiras, depois de uma merecidas férias. Saudade dos amigos como tu, meu querido, de ler os teus poemas/trechos que tanto nos acrescentam. A tua poesia nos eleva a alma e faz crer que nunca, nunca mesmo, a poesia morrerá, enquanto existirem corações como o teu, com um olhar encantado pela vida, alma enluarada de amor, como tudo isto que te faz ser o que é: um poeta de primeira grandeza!
Das minhas andanças trouxe para ti as estrelas que colhi nos sorrisos que encontrei pelos caminhos.
Com carinho,
Helena

Dentro da Bolha disse...

"Seja sócio de si mesmo, sem conflitos.
Ouça seu próprio grito ecoado nas pedras."

Tão profundo!
Não tenho palavras, apenas sinto a delicadeza da tua escrita.

abraço imenso.

Helen Ferreira disse...

Sinto necessidade de ser uma pedra, indecifrável e dura.

Que baita poema, como sempre, revelador.

Ariana Coimbra disse...

A linha de diferença que existe entre amor próprio e egoísmo é estratosférica.
Precisamos nos amar em primeiro lugar sempre, mas é necessário amar algo e alguém também.
Beijo

Fábio Murilo disse...

Obrigado, Maria, pelas gentis palavras. Abraço.

Fábio Murilo disse...

Olá, Helena, senti sua falta também! Falta dos seus comentários inteligentes, polidos e gentis. Muita bondade sua, sinto-me lisonjeado. Obrigado pelo carinho de sempre. Beijos!

Fábio Murilo disse...

Obrigado. Abraços!

Fábio Murilo disse...

Obrigado, Guria, poetiza maior.

Fábio Murilo disse...

"O homem não nasceu pra viver só", diz a própria Bíblia, Ariana, tira-se por ai. Obrigado, beijo!

Shirley Brunelli disse...

Fábio, muitas vezes gostaríamos de ser assim, como reza o seu poema. Porém, amigo, ninguém é uma ilha, uns precisam dos outros.
Beijos!!!

Dani disse...

O nosso egoísmo nos cega e é até clichê, mas muitos muros do egoísmo são quebrados quando o amor se faz presente. Nunca acreditei muito na frase "nascemos e morremos sozinho", afinal, criamos laços ao longo da vida, então querendo ou não sempre vai ter alguém que vai se importar conosco.

Beijos

Anônimo disse...

Lindo poema Fábio! Profundo e tocante..
Acredito que sempre vale a pena amar, ainda que por tantas vezes, infelizmente seja tão sofrido esse ato...
Beijos

http://simplesmentelilly.blogspot.com.br/

Fábio Murilo disse...

Eu não, gostaria, não, Shirley. Sou um cara sociável. Beijos!

Fábio Murilo disse...

É verdade, Dani. É bom isso, estimulante. Beijos!

Fábio Murilo disse...

É mesmo, Lilly, sofrer é inerente a vida, faz parte de sua dinâmica, como a alegria, a satisfação, a felicidade. Beijos!

Tais Luso de Carvalho disse...

Nem 8; nem oitenta. Se abrirmos muito as comportas surgem as ervas daninhas. Sou adepta a pesar os relacionamentos, averiguar, checar. No mundo de hoje, onde a inocência e o grande rol de boas intenções esqueceu-se no tempo, requer isso que penso. Mas ilha não! Mas um tanto de cuidado se faz necessário. Somos seres sociáveis, é preciso uma interação.

Fábio, não sei o que houve no meu banner; mudei a postagem e estou vendo que não mudou o banner aqui no seu blog!
Beijos!

Fábio Murilo disse...

Complicado. Mas, se formos nos relacionarmos com tantas reservas, tantos cuidados, tantas desconfianças, nem é bom sairmos do canto. Sei lá. Ou você vai ou fica, aposta, ou se fecha de vez. 8 ou 80. Os dois extremos. É um tiro no escuro. Não tem como ter nenhuma garantia, ser humano é imprevisível. É humano. Obrigado. Beijos, Tais!

Tais Luso de Carvalho disse...

Fábio, se nos atirarmos de um penhasco, ao mar, sem sabermos o que há nas profundidades, pode acontecer algo nada agradável. Falo em cautela!
Ainda mais nos dias atuais. Não são desconfianças, é cautela, averiguar o terreno...
bjus.

Fábio Murilo disse...

Talvez um meio termo, tipo "um risco calculado", como dizem. Rs. Beijos!

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