sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Reminiscências



Tuas fotografias agora doem, ofuscam,
Como quem mira o sol com os olhos nus.
Certas canções que ouvi já não ouço mais,
Tijolos sonoros a despencar dos tímpanos.
As lembranças que antes me acarinhavam,
Agora torturam, são dolorosas heranças,
Toneladas de ausência em meus ombros.
Todo apreço tem um preço, um ônus a pagar.
A emoção penetrando  janelas à dentro,
Inadvertidamente o vento a soprar.
Tudo aconteceu de fato, vivi e sou grato,
Embora só reste agora o mormaço,
Chiclete incômodo grudado no sapato.

Fábio Murilo, 20.02.2015

49 comentários:

Shirley Brunelli disse...

Quando o amor acaba, fica um gosto de perplexidade na boca.
Muito bonito, Fábio.
Beijos!

Carol Russo S disse...

Ficou sensacional, Fábio!

Certos momentos felizes se transformam em lembranças dolorosas, mas tento me convencer de que mesmo assim continuam nos fazendo bem. Eu me sinto, por vezes, morta, mas paro pra pensar em coisas que fiz e vejo que um dia já vivi de verdade e nem me dava conta. A gente sempre glorifica o passado e esquece de que o presente não se faz dele. Se tem coisa ruim nessa vida é viver acomodado.
Adorei o poema, obrigada por encher de poesia minha manhã (monótona) de sábado. Beijos!

Cidália Ferreira disse...

Boa tarde Fábio Murilo

Gostei do teu texto!

Beijo, bom sábado

http://coisasdeumavida172.blogspot.pt/

Anônimo disse...

Como sempre tuas poesias são sempre tão lindas e tocantes Fabio! E o teu blog diz que ela está morrendo. Vejo bem que se for por ti, ela viverá para sempre eternizada em teus tão lindo verso...
Abçs

http://simplesmentelilly.blogspot.com.br/

Laura Santos disse...

Há uma canção portuguesa que diz: "não se ama alguém que não ouve a mesma canção...", mas como dói, se tudo termina, voltar a ouvir essa canção que os dois gostavam, olhar as fotos. ..Como seria bom pode conservar apenas as recordações que não fazem doer...mas a ausência dói e como incrivelmente pesa mais que uma presença!
A vida parece ingrata, por vezes, como se ao sentir o sabor do que é bom, tivessemos que o perder a seguir. "Não se pode comer um bolo sem o perder"(F. Pessoa, Livro do Desassossego)
Excelente a imagem do chiclete colado na sola do sapato.
Belíssimo poema, Fábio. Gostei muito.
xx

Si Lima disse...

Sabe quando as reminiscências são o prato principal durante toda a semana, manhã, tarde e noite? Esse mofo todo impregnado sai com que? Como defenestrar essa dor inquietante das memórias? Onde encontrar a trégua com o passado tão presente? Hã, hã?
Tua poesia cutucou minha ferida mais aberta.

Beijoo'o

Vane M. disse...

É curioso como um sentimento que traz alegria, luz, pode se tornar uma lembrança dolorosa e ainda assim, vívida. Por esse motivo gosto de finais felizes. Um abraço!

Helena disse...

Querido Fábio: acredito que essa dor de existir sem o ser amado, alimentar-se apenas com as lembranças que ficaram, deixa um amargor na alma, um ardor nos olhos, uma lacuna no coração, de forma tão corrosiva que ao nos pegarmos mergulhados nas recordações voltamos a sentir tudo novamente... e de maneira ainda mais doída. Olhar uma foto, relembrar o momento em que foi clicada e todos os outros instantes de enlevo e amor em que foi admirada, ouvir na solidão aquela canção que era sempre apreciada a dois, tudo isto torna-se realmente um "chiclete incolor grudado no sapato". Uma dor que machuca a cada passo.
Como sempre, amigo, preciosos os versos inundados com a verdade que te vai no coração.
Que o teu domingo forme lembranças que um dia hão de abrir sorrisos e estrelas no teu caminhar.
Com carinho,
Helena

DIOGO_MAR disse...

Um capítulo do livro da nossa memória, que deve ficar sepultado, na terra estéril do nada.
Tal como diz a música: (Nunca voltes ao lugar onde ardeste de paixão, só encontrarás erva rasa por entre as Lages do chão).

Abraço

http://diogo-mar.blogspot.com/

http://rasgarosilencio.blogspot.pt/

Caleidoscópio de Idéias disse...

Todas as nossas dores nos servem para algum aprendizado, e as lembranças doem até que se apaguem no vento, porque tudo passa né...
Uma bela metáfora para esse sentimento é o chiclete grudado no sapato, aquela coisinha chata que vai grudando em todos os nossos passos.
Parabéns por mais um lindíssimo poema.
Beijos.

JAIRCLOPES disse...

Soneto-acróstico
Lembranças

Recordação é corrente que move moinho
Encontro do real presente com o passado
Mimetizando aquilo que pode ser maninho
Invertendo seguir natural que nos foi dado.

Nenhuma vida há sem outra já acontecida
Identidade daquele que aqui e agora está
Se consubstancia pela sua pregressa vida,
Conhecer passado melhor alicerce que há.

Ênfase no tempo que já está incorporado
Nos fornecerá uma ótima visão dum futuro
Com poder de mudar o que estiver errado

Inclusive pode tornar o espírito mais puro
Assim, aqueles que vivem ao nosso lado
Sentem que podem viver num porto seguro.

Franciéle Romero Machado disse...

Bem que algumas vezes o passado poderia ficar ali mesmo, no passado, entretanto insiste em incomodar e sufocar.
A dor escrita em seus versos consegue descrever algo tão nitidamente, desde a comparação a ver as fotos e ao olhar o sol, algo que perturba e tortura a visão. Assim como o coração pode ser perturbado em cada batimento e na desilusão do fato. Outra parte interessante é do peso nos ombros, não é material, mas no terreno sentimental sabe-se o quanto pode ser cruel e pesado carregar isso consigo. É como se cada dia de ausência pesasse um pouco mais. E por final o chiclete no sapato é aquela coisa incomoda que gruda e não tem como tirar, por mais que se tente. Interessante seu poema, honestamente muito bom!!

Abraços e uma boa tarde!

Tais Luso de Carvalho disse...

Tudo que acaba sem o nosso aval deixa um doloroso gosto de fel! E o melhor é esquecer. Tentar.
Lindo poema, Fábio
Beijos

Ariana Coimbra disse...

O seu vocabulário esta cada vez mais enriquecido, Fábio.
As lembranças 'as vezes nos torturam, nos ferem, mas também nos fazem redescobrir uma nova forma de viver, de fazer diferente da próxima vez.
Adorei!

Beijo

Moça disse...

Eu não sou adepta ao sofrimento, embora eu sinta todas as dores, até tudo germinar em poesia. Fiquei pensando naquela música da Adriana Calcanhoto: "Rasgue as minhas cartas e não me procure mais...assim, será melhor, meu bem...o retrato que eu te dei, se ainda tens, não sei, mas se tiver, devolva-me...''

serra de alencar, gabriela disse...

Tua poesia se redescobre a cada dia. Que ela seja capaz de mitigar nossas ausências.

Lucinalva disse...

Olá Fábio
Passando por aqui para conhecer o seu blog, é um cantinho bastante acolhedor. Lindo poema.

Anônimo disse...

... Porém o sol que te iluminava, hoje volta a brilhar novamente! Até Deus sabe quando!
Alegre-se!

Bela poesia!!!

Beijos!

Fábio Murilo disse...

É verdade Carol, bem pensado. Obrigado, beijos!

Fábio Murilo disse...

Obrigado, Cidália. Beijos!

Fábio Murilo disse...

Obrigado, Lilly, muito gentil. Abraços.

Fábio Murilo disse...

Doi, Laura, a gente se apega, gosta, natural. Brilhante, Fernando Pessoa. Obrigado.

Fábio Murilo disse...

Brilhante dedução menina, gostei. Tudo é o ângulo como se vê as coisas. Obrigado.

Fábio Murilo disse...

Poxa, Simone, é mesmo. Mas como diz uma canção popular, "Se sorri ou se sofri, o importante é que emoções eu vivi. Beijos!

Fábio Murilo disse...

Eu também Bia, sou conservador, nada melhor do que um bom e velho final feliz. Abraço.

Fábio Murilo disse...

Legal, Helena. Sempre com seus comentários imprescindíveis e extremamente sensíveis. Analisando completamente o texto , nos mínimos detalhes. Abraços, querida e amável amiga.

Fábio Murilo disse...

Obrigado pela participação, Diogo. Abraço.

Fábio Murilo disse...

Tem uma cabeça boa e madura, jovem Lu. Beijos.

Fábio Murilo disse...

Cara, impressionante a facilidade com que compõe sonetos, Jair. Abraços.

Fábio Murilo disse...

Obrigado, Franciéle. Gostei da analise, foi feliz. Abraços.

Fábio Murilo disse...

Obrigado pelas considerações, Tais. Beijos!

Fábio Murilo disse...

Oh, obrigado, Ariana, é?... Rs.

Fábio Murilo disse...

Mas todo mundo que se feliz, Maria Gabriela, mas nem sempre depende da gente. O importante é que façamos nossa parte. Bonita canção cantada Adriana Calcanhoto.

Fábio Murilo disse...

Que bom que teve essa impressão de renovação, Gabi. Motivador. Obrigado.

Fábio Murilo disse...

Olá, Lucidalva, que bom que gostou. Volte mais vezes. Obrigado.

PAULO TAMBURRO. disse...


Olá FABIO.

Sou seu mais novo seguidor.

Cheguei aqui através de amigos comuns que a internet propicia e assim, vamos nos tornando uma grande e cada vez maior quantidade de pessoas a se conhecerem e a seguirem uns aos outros na blogosfera.

Fabio, quanto a sua postagem, Rubem Alves já dizia que recorrer aos retratos e as lembranças ,é sepultar nossas vidas em vidas.

Para ele, quanto tentamos encontrar no passado aquelas paisagens existenciais que, nos fizeram felizes, iremos nos decepcionar ,pois, tudo estará mudado e absolutamente, diferente.

Excelente seu poema!

Estou lhe convidando para conhecer meus blogues:

FALANDO SÉRIO. (Crônicas de amor romântico).
http://ptamburro.blogspot.com.br/

FRAGMENTOS DO ACASO (Crônicas do dia-a-dia)
http://paulotamburrosexo.blogspot.com.br

E como ninguém é de ferro venha ser o seguidor número 2 336 do nosso blog de humor:

HUMOR EM TEXTOS (Crônicas que “pretendem” ser de humor)
http://paulotamburro.blogspot.com.br/

FOTOFALADA ( O nome já diz sobre o conteúdo do blog)
http://tamburrofotofalada.blogspot.com.br/

COMO ERA FÁCIL FAZER SEXO (Textos variados)

http://adoraonoturnafeminina.blogspot.com.br/

Um abração carioca.

Fábio Murilo disse...

Ah... Que legal, Fê! Me encheu de alegria realmente, \o/, feliz. Obrigadão, Beijos!

Girotto Brito disse...

Como sempre um espetáculo de poema. Lembrando o mix de sentimentos que nos tomam conta quando perdemos algo que fora importante. Parabéns, poeta!

Meus blogs literários:
O Poeta e a Madrugada (Contos e Poesia)
Dark Dreams Project (Contos de suspense e terror)

Abraços!

Fábio Murilo disse...

Obrigado, Paulo. Poxa quantos blogs. Legal! Obrigado pela visita, volte sempre, é um prazer receber sua visita. Abraço.

Fábio Murilo disse...

Obrigado, Shirley. Beijos!

Fábio Murilo disse...

È mesmo. Dênis, conclui bem. Obrigado. Abraços!

Anônimo disse...

Está feliz? Então consegui o que eu queria amigo!!! rsrsrs
hahaha O sol sempre volta a brilhar! De uma forma ou de outra, ele volta!

Beijos!

Fábio Murilo disse...

Que bom, né, Fê. De uma forma ou de outra. Beijos!

allmylife disse...

Já me senti assim..e agora revivo em tuas palavras não de um jeito ruim, mas com a visão de que até isso o tempo também levou, e melhorou, já até escuto novamente as canções! Bjs =*

Fábio Murilo disse...

Pois é, Allmylife, obrigado. Beijos!

Patrícia Pinna disse...

Boa noite, Murilo.
Quando tudo acaba fica uma sensação tão ruim, um vazio tão grande, uma sensação de que a pessoa a quem amamos passou e ficou na nossa vida com um tempo determinado.
Enquanto houve o amor, existiu a serenidade e a esperança, mas quando os laços afrouxam, fica a fraqueza momentânea da alma, que será curada mais tarde.
Escrevendo muito bem.
Beijos na alma e paz.

http://refugio-origens.blogspot.com.br/2015/02/nacao-em-prantos-by-patricia-pinna.html

Fábio Murilo disse...

Obrigado, Pat. Beijos!

Clau disse...

Oi Fábio,
São lindos teus escritos, parabéns
pela inspiração.
Algumas lembranças realmente
nos torturam...
Mas como diz as sábias palavras desta poesia:
'Todo apreço tem um preço, um ônus a pagar.'
Bjs!

Fábio Murilo disse...

Obrigado, Clau. Beijos

Postar um comentário