
Tudo é um milagre cotidiano, inesperado, se olhamos com olhos
de um menino, nesse instante nascido, como um estrangeiro de um país distante, descobrindo nuances, detalhes, paisagens,
pontos turísticos que já nos acostumamos. Tudo agora podia não ter
acontecido, ser um vácuo inimaginável, improvável, um breu impenetrável.
"Faça-se a luz"... Um dia alguém apertou um mega interruptor e tudo
acendeu, ganhou cor, aspecto, contornos, formas definidas, ficaram palpáveis,
visível no inimaginável caos. Outros dizem que foi uma explosão ao acaso, um acaso inteligente, um acaso parecendo algo, uma explosão
sem pólvora que só serviu pra acender a velha questão de quem nasceu primeiro o
ovo ou a galinha. Sendo assim, o que gerou a bomba de Hiroshima? Já pensei em
comprar um saco de bombas em festa junina e solta-las no quintal uma a uma,
umas cem talvez, cem tentativas... E ver
o que sai. Uma lagartixa correndo, uma barata queimada, uma minhoca derretendo, escorrendo numa pasta gelatinosa. Um ser asqueroso qualquer, alguma coisa que se mova.
Asqueroso... A propósito, só mato baratas em ultimo caso, dentro de casa, numa
luta franca, ela ou eu, melhor dizendo. Na rua deixo-as passar, não as piso...
Tudo é vida, é pulsar, é dor, é prazer, é cor, é algo que não foi feito a
esquadro, nem lixado, pintado, já estava lá. O homem só faz imitar o que vê na
natureza. O avião tem a forma de um pássaro, senão nunca voaria, nem pousaria
com graciosidade, aerodinâmica, dizem os “inventores”. Um famoso cientista
Stephen Hawking, considerado o mais novo Einstein, diz que existem outras
dimensões, gente igual à gente noutro canto, gente que já se foi daqui e
continua lá, replicando, resistindo, existindo. Vultos que saem do nada, mas,
não são fantasmas, fantasmas não existem, diz ele, alguém de outra dimensão, que
resolveu passar por aqui, dar um olá e dimensionar-se de novo. Já se admite até
a possibilidade de destino, "teoria do caos", uma sucessão de acasos
que concorre pra uma conclusão, que obedece a um padrão, um comando qualquer. É
que as coisas não são tão simples assim de explicar, a vida surpreende, às
vezes: um tsunami, uma enchente, um asteroide a cair na Rússia... E foge ao
controle de quem pensa que pode tudo, que a tudo pode explicar. Tudo tem uma
razão de ser, uma poça d’água suja na rua, estagnada, tá viva, é um microcosmo,
um universo em profusão, é um verso sujo a incomodar nossa estética dominante,
determinante. Tudo é perfeito, sincronizado, os dias e as noites, não atrasam, nem adiantam, mesma
hora todo dia, tudo é percebido, pouco explicado. Não pedimos pra nascer, fomos
aqui lançados. Reparo tudo às vezes, viajo,
pelas janelas dos meus olhos como se aqui nunca estivesse estado.
Fábio Murilo, 01.01.2016