sexta-feira, 6 de maio de 2016

O Cidadão


Vejo o sofrimento estampado
Na face oprimida do cidadão,
A humilhação elevada
Ao seu grau estremo.
Lamento sua fragilidade,
Sua cabeça à premio,
Sua luta, de cotidiano fel,
Pra garantir o pão,
Gastronômico troféu.

Sinto seus ombros sobrecarregados
Sob o peso das pressões,
Das tensões desse mundo cão,
 Da droga de sociedade 
Que ele compõe.

Da vida imitando a arte, 
Da ficção imitando a vida,
O criador subjugado
À própria criação.

Fábio Murilo, 16.12.198...

15 comentários:

Cidália Ferreira disse...

Bem verdade. Amei de verdade!!

Beijo e um feliz dia

http://coisasdeumavida172.blogspot.pt/

Sara com Cafe disse...

que profundo, que singelo.
abraco apertado. abraco!

Priscila Rúbia disse...

É...
A maioria, a grande maioria, está perdida em meio a árvores metálicas, surdos desse selvagem alarido do canto de cigarra mecânica num verão de aço. E em meio a esse titãtismo teatral, não parece que a luta é travada só entre a mão do operário e o ferro. Há um inimigo oculto que devora essa tal cidadania geral, que suga o macacão, o uniforme, a vida do pouco que resta de carne e nervos desse humano.

E a gente olha a volta e há tantos rostos diferentes...
Quando sentamos numa cafeteria, num restaurante, e ficamos a olhar esse mundo de pessoas a passar pelo vão da porta, dar dois passos, fazer 3 gestos e desaparecer pela mesma porta. Sempre parece que há nisso tudo um equívoco, um erro fundamental muito mais grave do que o mal entendido das classes. Um erro mais grave e íntimo. Diria mesmo uma traição. Algum dia os homens (como humanos, homens e mulheres) teriam traído ou teriam sido enganados, e nesse dia, o Tempo entrara na cidade dos homens pela brecha dessa traição ou escondido na algibeira de uma falsa promessa. E deixou a cidade em pânico e um inimigo governando. E por isso, agora os homens passam nas ruas batendo nádegas tristes.

E o que todos fazem andando nas ruas, conversando nas salas, nas esquinas movimentadas, nos cafés, nos cassinos, nas praias cheias de sol.... é só isso: engolir horas. Matar o tempo. Vivemos na antecâmara duma burocracia colossalmente inútil, numa espera sem sentido, desmemoriada, temperada de idiotia, duma espera que as vezes se diverte mas que caminha para o nada. (as vezes em protestos em falsete de horror ao vazio)

E no entanto... o segredo de cada um está em como morre na medida em que se morre, em que se vai deixando de ser.
Resta a pergunta: De que nos serve agasalhar carvões ardentes de consumo lento e cotidiano?

Meu Olá
=)

Dorli Ramos disse...

Oi Fábio,
Linda sua construção poética. Muito inteligente.
Parabéns
Beijos
Minicontista2

Elcimar Reis disse...

Perfeito. Explanou uma situação que infelizmente é realidade na nossa frágil sociedade. Adorei. ♥

www.acessopermitido.com

Helen Ferreira disse...

allmylife disse...

Fábio tudo aqui é tão bem colocado, cada palavra, as imagens, os sons. Lindo mesmo. Quero um livro teu, quero pegar o blog imprimir e colocar na minha estante,quero ler e reler quando não tiver internet rsrs...bjs e boa semana.

Tais Luso de Carvalho disse...

Oi, Fábio!! Nossa... que poema! Acho que já lhe falei que minha preferência são os poemas que falam das questões sociais, e esse toca no âmago, desnuda a nossa miséria - seja física ou mental.
Aplaudo o menino de ouro!
beijo!

Sara com Cafe disse...

linda semana. abraço.

Shirley Brunelli disse...

Estamos todos sem meta, sem chão, sem direção...
Gostei do poema, Fábio!
Beijão!

Fábio Murilo disse...

Oh, muito obrigado, Pati. Gracinha, rs. Beijos!

Fábio Murilo disse...

Obrigado, Sara, rs. Abraços.

Fábio Murilo disse...

Show! Super Priscila. Olá, a quanto tempo. Abraços.

Janaína de Souza Roberto disse...

Um texto escrito há talvez duas décadas e eu aqui com meus botões pensando no quão atemporal um texto pode ser e a vida também.
As coisas andam tão frágeis, não é?!
Ler o seu texto foi um presente. Obrigada!

Beijão,
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Franciéle Romero Machado disse...

Trazer a realidade dessa forma escrita, descrever a linha entre verdades e metáforas. Estes versos expressam bem isso, escreveste com inspiração. Gostei do poema!!

Abraços!

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