sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Diário de Bordo


Tudo é um milagre cotidiano, inesperado, se olhamos com olhos de um menino, nesse instante nascido, como um estrangeiro de um país distante, descobrindo nuances, detalhes, paisagens, pontos turísticos que já nos acostumamos. Tudo agora podia não ter acontecido, ser um vácuo inimaginável, improvável, um breu impenetrável. "Faça-se a luz"... Um dia alguém apertou um mega interruptor e tudo acendeu, ganhou cor, aspecto, contornos, formas definidas, ficaram palpáveis, visível no inimaginável caos. Outros dizem que foi uma explosão ao acaso, um acaso inteligente, um acaso parecendo algo, uma explosão sem pólvora que só serviu pra acender a velha questão de quem nasceu primeiro o ovo ou a galinha. Sendo assim, o que gerou a bomba de Hiroshima? Já pensei em comprar um saco de bombas em festa junina e solta-las no quintal uma a uma, umas cem talvez, cem tentativas...  E ver o que sai. Uma lagartixa correndo, uma barata queimada, uma minhoca derretendo, escorrendo numa pasta gelatinosa. Um ser asqueroso qualquer, alguma coisa que se mova. Asqueroso... A propósito, só mato baratas em ultimo caso, dentro de casa, numa luta franca, ela ou eu, melhor dizendo. Na rua deixo-as passar, não as piso... Tudo é vida, é pulsar, é dor, é prazer, é cor, é algo que não foi feito a esquadro, nem lixado, pintado, já estava lá. O homem só faz imitar o que vê na natureza. O avião tem a forma de um pássaro, senão nunca voaria, nem pousaria com graciosidade, aerodinâmica, dizem os “inventores”. Um famoso cientista Stephen Hawking, considerado o mais novo Einstein, diz que existem outras dimensões, gente igual à gente noutro canto, gente que já se foi daqui e continua lá, replicando, resistindo, existindo. Vultos que saem do nada, mas, não são fantasmas, fantasmas não existem, diz ele, alguém de outra dimensão, que resolveu passar por aqui, dar um olá e dimensionar-se de novo. Já se admite até a possibilidade de destino, "teoria do caos", uma sucessão de acasos que concorre pra uma conclusão, que obedece a um padrão, um comando qualquer. É que as coisas não são tão simples assim de explicar, a vida surpreende, às vezes: um tsunami, uma enchente, um asteroide a cair na Rússia... E foge ao controle de quem pensa que pode tudo, que a tudo pode explicar. Tudo tem uma razão de ser, uma poça d’água suja na rua, estagnada, tá viva, é um microcosmo, um universo em profusão, é um verso sujo a incomodar nossa estética dominante, determinante. Tudo é perfeito, sincronizado, os dias e as noites, não atrasam, nem adiantam, mesma hora todo dia, tudo é percebido, pouco explicado. Não pedimos pra nascer, fomos aqui lançados.  Reparo tudo às vezes, viajo, pelas janelas dos meus olhos como se aqui nunca estivesse estado.

Fábio Murilo, 01.01.2016

32 comentários:

Cidália Ferreira disse...

Um texto que gostei de ler!
Nada acontece ao acaso!

Beijo de boa noite.
http://coisasdeumavida172.blogspot.pt/

Larissa Fonseca disse...

O olhar de um poeta, como me encanta! Belíssimas palavras, meu caro. Mais bela ainda é a reflexão que trazem.

Daniel C.da Silva disse...

Um post muito interessante, quase uma dissertação diferente. Gostei :)

Grande abraço

Shirley Brunelli disse...

Fábio, toda a Criação, desde o átomo até as galáxias, obedece o rítmo da mesma dança cósmica. O macro ( universo) e o microcosmo (nós), funcionam da mesma maneira, em volta de um centro.
Concordo com muitas coisas que você disse e outras, nem tanto. Gostaria de tecer mais considerações, porém o reduzido espaço não me permite.
Mas, uma coisa é certa, é interessante o seu jeito de escrever... As palavras, nos seus escritos, parecem jorrar de enorme cascata. Parabéns!
Beijos!

Tais Luso de Carvalho disse...


Essa sua cronica dá o que pensar, gostei quando você fala em deixar uma barata passar sem matá-la, tudo é vida, tudo pulsa, é dor, prazer... Não esquecerei disso quando der de cara com uma barata na rua.
E mais: como começou tudo, com uma explosão em que tudo obedeceu a uma sincronização? Nada é simples, Fábio, quando se trata de vida, de natureza, de começo e fim. Penso que temos dúvidas e sede de conhecimentos iguais, e o básico é a pergunta: de onde viemos e para onde vamos. E quando acabará? O que será do planeta? Corro sempre atrás de explicações para tentar entender o princípio, e quanto mais leio mais perguntas aparecem. E nenhuma resposta.
Ótima crônica, tema instigante que mexe com nossa mente, nos levando a certa análise. Nada mais verdadeiro e mais humilde do que repetir o grande filósofo...
'Só sei que nada sei...'
beijo!

Fábio Murilo disse...

Obrigado, Cidalia. Beijos!

Fábio Murilo disse...

Obrigado, Larissa. Que bom!

Fábio Murilo disse...

Obrigado, Daniel. Tu que é o cara dos textos prosaicos. Abraços.

Fábio Murilo disse...

Que nada, Shirley, porque parou, tinha espaço a vontade... Porque parou, parou porque. Poxa... Muito obrigado pelas palavras elogiosas, inspiradoras. Me motivaram. Beijos!

Fábio Murilo disse...

Disse tudo, Tais. Não me atrevo a dizer mais nada. Beijos!

Elcimar Reis disse...

Fábio. Você é um gênio! E eu te admito muito cara! Sério! uhehehehe. Eu simplesmente adorei esse texto, cada detalhe, a narrativa, a sequência de fatos e de linha de pensamento. BRAVO! ♥ Tomei a liberdade de te divulgar na Fan Page do Acesso Permitido no facebook. ♥

Acesso Permitido. ♥
www.acessopermitido.com

Ani Braga disse...

Oi Fábio querido


A vida surpreende sempre...

E estar aqui hoje foi uma grata surpresa...


Beijos
Ani

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

profundo e merecedor de reflexão com passagens muito bem escritas.
gostei!
beijo
:)

Gabriela Miranda disse...

CARA QUE TEXTO MARAVILHOSO! ESTOU SEM PALAVRAS.
http://viagem-a-terra-do-nunca.blogspot.com/

Vitor Costa disse...

Fico extremamente feliz em saber que decidiu postar o texto que você havia me mostrado no Facebook. E repito o que disse, uma prosa poética intensa e reflexiva, vívida e contemplativa. Você é um cara talentoso e, consequentemente, versátil. Sempre expandir horizontes. Grande abraço caro!

Bandys disse...

Deus sempre esta no controle.
Beijo

Fábio Murilo disse...

Obrigado, Marcos. Abraços!

Fábio Murilo disse...

Ah que gentil! Gênios são Stephen Hawking e Einstein, rs. Obrigadíssimo! Muito grato por tudo! Abraços!

Fábio Murilo disse...

A é,tem razão. Obrigado, pelo carinho. Beijos!

Fábio Murilo disse...

Muito obrigado, Sol. Beijos!

Fábio Murilo disse...

Obrigado, Gabi, rs. Precisa dizer mais nada, rs. Abraços!

Fábio Murilo disse...

Muito obrigado, Vitão. Pois é, estava inseguro e te mostrei mestre da prosa. Valeu pelo apoio e incentivo. Abraços!

Fábio Murilo disse...

Isso, garota. Beijos!

Vanessa M. disse...

Parabéns pelo texto, Fábio! Muito inspirador e repleto de reflexões interessantes.

Um grande abraço

Fábio Murilo disse...

Obrigado, Vane. Abraços!

Rose Sousa disse...

Oi Fábio! Seu texto é de um tipo raro, dos poucos que me prendem a atenção. Não sei explicar, só apreciar. Carinhos e admirações do http://rosesousacoracaodefera.blogspot.com.br/

Fábio Murilo disse...

Aprecie sem moderação então, rs. Abraços!

Fábio Murilo disse...

Obrigado, Daniel, pela força.

Fábio Murilo disse...

Obrigado pela força, talentosa cronista. Beijos!

Tais Luso de Carvalho disse...

Que nada, Fábio, o mérito é todo seu! É o seu lado de cronista que aflorou. E gostei muito. Sucesso, sempre!
beijos!

Laura Santos disse...

Precioso texto, Fábio. Poético e filosófico ao mesmo tempo.
"Não pedimos para nascer, fomos aqui lançados", e a cada dia que passa este mundo se torna mais familiar e mais estranho, cheio de um mistério que nos causa deslumbramento e perplexidade.
Um belíssimo "Diário de Bordo".
xx

Fábio Murilo disse...

Obrigado, Laura. Bom saber, me dá confiança prá "prosear" de vez em quando. Obrigado.

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