sexta-feira, 31 de maio de 2013

Do Perfeitamente Integrado

Falta-lhe a necessária coragem
Para romper a camisa-de-força 
De rígidos pragmatismos...
E alargar os ângulos
De sua previsível realidade.

Na pele de seu herói TV
De ações mirabolantes,
Ou d’algum personagem 
De uma lírica novela
Ele sonha...

No dia-a-dia mostra-se apático,
É apenas uma múmia de seriedade.

Fábio Murilo-29.10.90

20 comentários:

Fred Caju disse...

Sair da engrenagem não é para todos.

Fábio Murilo disse...

Mas não ousamos anular
O meio século de vida
Que foi, de sete em sete dias,
Inocentes, nos devorando.

(do Pernambucano Alberto da Cunha Melo)

Concordo plenamente, Fred.

Sarah Corrêa disse...

'múmia de seriedade'. ou não seria múmia de gesso, apenas, sem adjetivação alguma?

Fábio Murilo disse...

Dá no mesmo. Sem adjetivo, sem objetivo. Sem vida, monótono, reto como um poste, cumpridor de seus deveres e afazeres. Completamente previsível, invisível, insosso. Vive e não existe, pobrezinho, Sarah.

Jorge Leandro Carneiro disse...

Poucos são os loucos que se desprendem da sua máscara de realidade pra ser o super-herói que há internamente. Herói esse que é sua verdadeira face.

Fábio Murilo disse...

Comentar mais o que? Você disse tudo. Não me atrevo a acrescentar uma só vírgula. Muito lúcido amigo.

Bruno disse...

acho que teu poema é o relato incrustado de todos os pensamentos de todos os cidadães antes de dormir.

antes de sonhar, somos sempre heroicos, ao acordar, somos sempre errôneos.

abraços

Bandys disse...

Sonhar é sempre bom.
Basta ter um pesadelo pra vermos isso.
É verdade estou sempre alegrinha, é melhor
da menos ruga, rsrs;

Beijos menino

Fábio Murilo disse...

Incrustado no cotidiano,
Feito um fóssil na rocha,
Participa, forçosamente,
De um insuportável filme...

Esse "incrustado", me lembrou esse trecho de outro poema meu, dessa época. Interessante. Não sei se entendi bem, mas comigo acontece o contrario, também estou no mesmo barco, não é fácil sair da engrenagem feito comentou Fred Caju. Acordo cheio de predisposições heróicas: é hoje... Se freqüentemente não realizo o intento, os fantasmas da frustração, da covardia me torturam, talvez amanhã, digo... Enquanto o tempo vai passando em sua irredutível sentença: cada dia a mais é um dia a menos e nos deixando sem tempo, nos arriscando aos imprevistos. Obrigado pela participação Bruno.

Fábio Murilo disse...

Verdade Garota Dourada, Deus te mantenha sempre assim!

Al Reiffer disse...

Gostei dos teus poemas, parabéns!

Fábio Murilo disse...

Obrigado amigo, muito gentil. Seja sempre bem vindo.

Samuel Balbinot disse...

Bela poesia.. bacana isso de datar os escritos né.. tb faço isso desde o começo.. só um dito se não te importas.. mas a poesia não está morrendo não pq todos nós estamos mantendo ela viva.. tenha um lindo dia

http://lapidandoversos.blogspot.com.br/

Fábio Murilo disse...

Obrigado Samuel. É, mantenho esse habito desde que comecei a escrever, via os grandes fazerem isso, achava chique (rs...). É bom porque se tem uma idéia de tempo e espaço, do contesto histórico em que foram escritas, serve como registro prá você se localizar. Quanto ao título, pensava assim antes de fazer o blog, tava me sentido, tipo, "o último romântico", mas valeu a surpresa. A poesia ta morrendo não, tenho visto ela até coradinha, ultimamente, moça bonita vinda da praia. Só acho meio sumida nas livrarias. Não vou mexer mais no nome fantasia, de batismo, nem se deve, fica só como função provocativa: "Como é esse cara tá dizendo que a poesia tá morrendo?! Vou falar com ele". Valeu. Vou dar uma passadinha na sua casa.

Bruno disse...

Digo, quando o cotidiano te abocanha sonhar antes de dormir é teu único reduto, e, ao acordar, continua-se na engrenagem. Já acordei com o pensamento: é hoje. E entendo o sentimento de frustração ou alegria que acordar com tal pensamento gere.

Abraços!
www.importunobruno.com.br

Fábio Murilo disse...

Entendi Bruno. Abraços!

pscheunemann disse...

Fábio, certeiro este poema, impressionante! há um abismo entre o que somos contra a luz da realidade e a penumbra em que nos permitimos sonhar. Realmente, não sei como fugir do dia-a-dia que vai nos mumificando vivos; a cada dia que passa se espera que sejamos mais padronizados, mais adequados à forma e às batidas mecânicas do ponteiro, até nossos sonhos são manipulados e calculados pra servirem à fórmula, ao novo ritmo que o mundo pede, e há quem sonhe de acordo. Não sei se esse mundo comporta mais heróis, desbravadores (exceto os de si mesmos), parece que tudo, ou quase tudo, já está empacotado em bytes e posto à venda. O que nos resta por enquanto, enquanto não inventarem uma nova mágica pra nos roubarem até os sonhos, é sonhar e tentar permanecer lúcidos pra estabelecer contanto com o que sonhamos, mesmo que as faixas já nós ultrapassem o pescoço.

Abraço.

Paulo

Fábio Murilo disse...

"até nossos sonhos são manipulados", essa me causou arrepios. Lúcido ao extremo. Há os que sonham de acordo, ou se fazem, e esperam o carnaval. Vivo atento Paulo procurando uma brecha no muro, uma fresta, uma porta entreaberta por esquecimento. É como dizia um cantor dos anos 70 em sua música Milho aos Pombos: “Eu dando milho aos pombos no frio desse chão. Eu sei tanto quanto eles se bater asas mais alto voam como gavião. Tiro ao homem, tiro ao pombo, quanto mais alto voam maior o tombo”. Obrigado, excelente comentário.

HUMO disse...

Excelente Fàbio! Me encantò el poema anterior, la comparaciòn del edificio con el aburrimiento .Muy bueno.Sos un buen hallasgo !

=) HUMO

Fábio Murilo disse...

Obrigado Maria Fernanda. A gente solta o poema no mundo, ele se emancipa, um dia todos os filhos partem, e interrelaciona-se diferentemente com outras gentes, que tem uma sua própria leitura, concepção, uma impressão diferente, que vai além das aparências, como acontece em relação à gente, em relação as outros , a primeira impressão é a que fica, ou não, edifica, ou entendia de tão corriqueiro. Interessante.

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