Como
pão com sabor de nada, a minha boca tá estranha.
Tem
um oco em meu peito, um coração sangrando,
As
vísceras expostas num espetáculo medonho.
Não queria mais sofrer, mas não teve jeito,
A
vida sempre desaponta, é essencialmente trágica.
Eu
vi a glória do céu se abrir, voei num corcel alado,
Pairei
sobre os edifícios, contemplei pores de sol,
Luzeiros
prateados, luares de cristal, faróis dos carros.
Respirei
o ar gelado da noite da mais alta atmosfera.
Vi
uma nova era surgir, um novo século se abrir.
Foi
quando um buraco engoliu o menino correndo,
Um
tiro no peito da ave canora, em pleno voo,
A
fez cair enxague numa poça de sangue, sucumbir.
De
repente tudo se inverteu, e o que era céu virou chão,
O
que era espaço, escasso, o que era caminho, contramão.
Um
cometa destruiu tudo, toda fauna e flora se foram.
Queimou
florestas e deixou desertos, incertos.
Tudo
virou nada, lugar nenhum, escuridão, desolação.
O
que era perto ficou longe, estrada pra lugar algum.
A
vida toda retrocedida à estaca zero, agora seria,
Triste constatação do que tinha a toda hora e não
mais teria.
Fábio
Murilo, 17.01.2015
36 comentários:
Eu gosto muito da tua poesia e, como já te disse algumas vezes, quando ela é triste se torna ainda mais esplêndida. "A poesia precisa de dor", e eu preciso das duas, a poesia e a tristeza, entrelaçadas.
"Um cometa destruiu tudo, toda fauna e flora se foram.
Queimou florestas e deixou desertos, incertos."
Essa seria a representação mais fiel de um coração machucado. Parabéns, Fábio!
Obs.: a música de fundo combinou perfeitamente. Ouvi as melodias chorarem.
Um poema muito bonito, com salpicos de tristeza.... Amei
Beijo, bom fim de semana
http://coisasdeumavida172.blogspot.pt/
Arrepiei ao ler cada linha. Não sei se é por eu estar vulnerável, introspectiva deixei cair algumas lágrimas.
"A vida toda retrocedida à estaca zero, agora seria,
Triste constatação do que tinha a toda hora e não mais teria."
Perdi as contas de quantas vezes precisei (re)começar do zero, deixar partir sentimentos, momentos, lembranças e pessoas. É triste, mas é preciso.
Espero que você perceba isso, a dor diminui.
Belas palavras!
Obrigado, Cidália. Beijos.
Poxa, Ariana. Que sentimentos intensos, aflorados, externou. Perceber? Esse poema foi a descrição de uma sensação, um estado de espírito momentâneo, não quero que ninguém parta não, Deus me livre, fiquem! Rs... Obrigado, gentil escritora. Beijos!
Obrigado, Carol, é mesmo. 99,99% das musicas, por exemplo, falam de dor, são sofridas. Talvez quando nos sentimos felizes, já estamos plenos. O sofrimento é carência, é falta,é contenção, é a antítese do prazer. É uma panela de pressão abrindo válvulas de escapes por todos os poros. É ânsia a sublimar, a se debater, a reclamar, a lamentar. Beijos!
Um poema cru, feito de peito aberto, com o sofrimento exposto de forma carnal, porque o sofrimento é visceral.
A dor que se sente quanto tudo se teve, ou quando tudo se sonhou, mas parece que todo o corcel alado nos despeja sempre algures, num qualquer chão. E sem caminho de volta. Pois é, a vida é trágica, na dureza do crescer, na dureza da desilusão. O fim, "a estaca zero", e o mais profundo sentimento de perda.
Um poema excelente, com versos geniais!
xx
Infelizmente caminhamos para essa realidade, não dá para esconder a cabeça na areia.
Muito bom, Fábio, gostei, um beijo!!!
Sem palavras. Obrigado, Laura.
Obrigado, Shirley.
olá, estou conhecendo teu espaço e já te sigo. tua poesia é tocante e bela, vc tem coragem de falar da dor como poucos conseguem, preferem ignorar. bjs
http://0relicariodeemocoes.blogspot.com.br/
É, falou uma coisa certa, Jeanne, coragem. Há um preconceito, um condicionamento, hipócrita, pra sempre falar bonitinho, pra se enganar. "O que dá pra sorrir, dá pra chorar" diz o ditado. Uns dias são de sóis, outros de chuva, há horas pra sorrir, outras pra lamentar. A dor e o prazer se completam, se justificam. Obrigado pela visita, volte sempre. Beijos!
Belíssima obra Fábio!
Uma aula de poesia, forte, reflexiva, profunda, contagiante!
Grande abraço, sucesso e ótima semana!
Que nada, Evandro. Rs. Você que é o cara! Obrigado. Abraços, desejo o mesmo pra você.
Lindo demais, que cheguei até a me emocionar Fábio! Simplesmente linda poesia!
Abraços
http://simplesmentelilly.blogspot.com.br/
Gostei muitíssimo do poema, achei-o sublime, Fábio!
Que palavras tocantes.. A melancolia presente nelas torna-as ainda mais profundas, a meu ver.
Por certo a vida tem sim seu toque de tragicidade, que por vezes ameaça sucumbir nossos anseios, deixando-nos assim desamparados.. Descreveste perfeitamente este sentimento.
Tenha uma ótima semana!
Um grande abraço
"Não queria mais sofrer, mas não teve jeito,
A vida sempre desaponta, é essencialmente trágica."
A ausência se tornando concreta demais pra esses sonhos abstratos demais que tenho no peito. Teus versos me puseram no centro de tudo/de algum lugar que eu não sei qualé e toda essa tragicidade nas peles e corações alheios parecia passear tristemente ao redor, num plano em preto-e-branco. Teus versos são maravilhosos.
Beijoo'o
"De repente tudo se inverteu, e o que era céu virou chão,
O que era espaço, escasso, o que era caminho, contramão."
Genial Fábio, assim como todo o resto. Já tinha dito anteriormente, e reitero: esse poema me tocou bastante, com suas palavras fortes, metáforas grandiosas que descrevem o quão profundo é o sentimento da ausência. Melancolia visceral ressaltada por essa música sublime. Tem bom gosto para músicas Fábio rs
Abraços meu amigo.
Olá, Fábio, como vai?
Agradeço a visita em meu blog e já estou por aqui... volto com mais tempo para apreciar seus escritos, gosto muito de quem sabe poetar. Um abraço!
Das coisas que eu gostaria de ter escrito!
Muito bonito, e verdadeiro como sempre.
Poxa, Lilly, que bom saber que o poema cumpriu seu objetivo, emocionar. Obrigado.
Obrigado, Vane, pelos sempre consistentes comentários. Abraço.
Maravilhoso foi seu comentário, um poema dentro do outro. Obrigado, Simone.
Pois é Fábio...a vida anda em círculo, umas vezes nos parece céu, outras chão. Umas vezes o sol brilha, outras vezes tudo nos parece escuridão. E o pior é que quando estamos no chão , ou na fase escura, tudo à nossa volta parece desmoronar-se, e a força parece faltar-nos para seguirmos em frente.
Dói por vezes mais, que vísceras expostas...porque o oco da ausência sente-se, quando até as vísceras parecem ter-nos abandonado.
Gostei do realismo deste poema, da descrição fiel, do que é uma vida composta de tudo, e ao mesmo tempo também cheia de nada. Do que é o cair e o levantar.
Tomando consciência, é meio caminho para o recomeço.
Ah....a sonata ao luar Beethoven....uma delícia!!
Que ótimo, Vitor. Tua opinião é de peso, gosto muito deu sua visão e sensibilidade apurada. Obrigado. Abraços, amigão.
Vou bem, Bia. Precisa me agradecer não, foi um prazer. Abraços.
Obrigado, Guria. Sinto-me lisonjeado com o que disse, eu que aprecio a qualidade de tua poesia, a olhos vistos, bem sabes. Tu que é ótima!
Falar mais o que, Cristina, disseste tudo e mais alguma coisa. Obrigado. Beijos!
Oi, Fábio, não dá para esconder o problema, como diz a Shirley, todos passaremos, porém jamais acostumaremos com o inferno que desnorteia todos nossos sentimentos. É o caos, céus descem, inferno toma a dianteira. E haja saúde para arrumar a bagunça que fica. Belo poema, triste, incomoda porque nos obriga a pensar e até visualizar... Mas o poeta tem de ir a fundo, mesmo nas piores situações.
Beijos!
A gente sabe quão sincera é uma poesia quando conseguimos sentir a falta que o outro sente. Belíssimos versos.
Olá, Gabi. Que legal o que disse. Obrigado!
Boa tarde Fábio, seu poema está espetacular... palavras saídas do âmago da alma...
Li alguns comentários feitos aqui, acho muito legal essa interatividade. Seus poemas sempre instiga o leitor a um comentário inteligente.
Beijos no coração!
Exato, Tais. Como diz Chico: "Uns dias chovem, outros dias fazem sol,mas o que que quero lhe dizer que a coisa aqui tá preta". Tudo tem sua beleza, trágica embora. Beijos!
É mesmo, Fê. Essa interatividade, que fala, é muito boa realmente, a diversidade de opiniões, as interpretações e as visões de mundo, só acrescentam. Inclusive os seus imprescindíveis comentários também. Muito obrigado, tem cadeira cativa aqui. Beijos!
Bom dia, Murilo.
Um poema repleto de realismo por si só.
A vida é assim mesmo, paradoxal, um dia se está voando nas alturas e feliz sem conseguir descrever, noutra, aparece uma fatalidade, algo ruim que muito nos entristece e decepciona e nada podemos fazer a não ser lidar de uma forma natural com o problema apresentado.
O que muda e sempre mudará será a nossa atitude perante os fatos.
Se tivermos de viver a tristeza por um tempo que a vivamos, certamente aparecerá mais adiante uma nova situação que nos fará felizes.
Fugir é que nunca dá meio em meio aos destroços da nossa alma.
Tenha uma semana de paz.
Parabéns pelo belo poema!
Obrigado, Pat. Beijos!
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