sexta-feira, 21 de março de 2014

Morte Súbita


Morrer é uma estupidez sem tamanho.
É um processo medonho de se vivenciar.
É uma roleta maldita, só com opções sinistras:
Há um predador vigiando em cada esquina,
Há um bichano embaixo do sofá,
Esperado o momento de atacar a presa,
Um tombo, um descuido, uma fraqueza...
Pular no lombo, na jugular.

Morrer é profundamente trágico.
Deveríamos como as lâmpadas apagar.

Fábio Murilo, 20.05.2004

46 comentários:

Ronilda David-Loubah Sofia disse...

Sim morrer é tragicamente estúpido
Ou um secreto alívio de esquecimento
almejado no mistério do desconhecido.

Sabes?

O que mais amofina-me é não saber
se finalmente a alma descansará em paz
De qualquer forma é isto somos o que acreditamos
ser e esse é o nosso destino seja lá onde e como for.

A tua escrita denuncia toda a intensidade de quem
de facto ver a vida como ela é:
Uma complexa oscilação entre o belo e
o temor do desse tudo,por vezes opressor.

Meus cumprimentos,Fábio,bom sábado.

Cidália Ferreira disse...

Bom dia Fábio Murilo
Era realmente ser como uma lampada, apagar..

Só a palavra morte, já me assusta, pq lutei contra ela.

Adorei a tua Poesia.Parabéns.

Beijos

Bom fim de semana.

http://coisasdeumavida172.blogspot.pt/

Fábio Murilo disse...

Sei Cidália da sua historia de vida. Gostaria de falar só de outras coisas, amor, flor... me enganar. Mas a dita cuja existe, ignoremos ou não. Você é uma sobrevivente. "O que não nos mata nos torna mais forte", diz o filme americano, acho que é por ai. Obrigado.

Fábio Murilo disse...

Eu particularmente nutro uma visão cristã, otimista do assunto, embora não possua nenhum credo. Mas é um fato que nos incomoda, convenhamos, e que indiretamente, dá sabor a vida. Pra vivemos intensamente o agora. Dar valor as pequenas alegrias, ao milagre de acordar. Lá fora, agora, um pássaro canta, há uma manhã ensolarada... Podia não haver, mas, há. Como diz Mário Quintana: "A morte é o aperitivo da vida". Obrigado.

Fábio Murilo disse...

É?!... hum... Pode ser. Obrigado Marcos.

Samuel Balbinot disse...

Bom dia Fábio.. ontem ouvindo uma palestra de Lair Ribeiro no youtube ele disse bem isso..
deverpíamos ser como uma lampada que até antes de queimar esta iluminando ..
morrer sim.. é inevitável.. mas a morte em si é uma grande transformação.. sobre o assunto tem um video muito bacana
se desejar procure por
programa vida inteligente- morte
adoro a abordagem do mesmo..
e tua poesia é muito reveladora.. adoro temas assim não por medo mas pq busco sempre o entendimento.. abraços

Unknown disse...

Olá Murilo!

É a primeira vez que visito o teu cantinho poético, mas tenciono ficar.
Gosto da forma como conjugas as palavras e crias poesia.

O teu poema é bonito, embora racional e fatalista.
Mas na realidade, será a vida assim?
A morte, sim, é. Porém, tenho uma opinião e visão diferentes acerca da morte. Se me permites dizer, a morte não é tão negativa assim. Ela é a libertação do espírito aprisionado no corpo, é viver noutra dimensão.
Bom, mas isto é só a minha opinião. ;)

Beijos,

Cris Henriques

http://oqueomeucoracaodiz.blogspot.com/

" R y k @ r d o " disse...

É trágico morrer? Quem o sabe? Mas admito que seja

Bom fim de semana ... cumprimentos
*******************************************
http://pensamentosedevaneiosdoaguialivre.blogspot.pt/

Fábio Murilo disse...

Acho que seja. Talvez não, talvez seja um doloroso passaporte, como ao nascer a criança chora, a responsabilidade de agora ter que respirar com os próprios pulmões, ao sair do escurinho aconchegando do útero pra esse mundo conturbado, de súbita cores, sons e dores. Obrigado, Ricardo.

Unknown disse...

Murilo parabéns achei bem profundo
e concordo com a Cris morrer não é tão
ruim , acho que vamos para outra dimensão
mais bonita, onde nos libertamos desse mundo
para uma outra vida melhor........ (Minha Opinião)
Mas gostei mesmo elogios mais uma vez

Abraços de sempre
ღ(•‿•)ღ
.._/█\_ ♡..Rita!!

Laura Santos disse...

Morrer é por um lado a maior estupidez de todas, por outro lado é a grande realidade; a maior de todas.É a constatação de que a vida não é mais do que um sonho intercalado por alguns pesadelos.
A morte mostra-nos que antes de mais somos animais, seres da Natureza mutável que se recicla. Podemos ter esse "tombo" ou essa "fraqueza" para que uma morte súbita de contornos trágicos nos surpreenda sem aviso, mas também poderemos morrer muito lentamente, o que não deixa de ser também dramático, dramaticamente natural.
Felizmente tens uma visão optimista do pós-morte. Eu não tenho, para mim a morte é o fim, já que não acredito numa alma autónoma em relação ao corpo. Mas se eu estiver enganada, só terei a ganhar...;-)
Adoro esse teu lado incisivo de falar com beleza do que é sério.
xx

Fábio Murilo disse...

Oi Cris, seja bem vinda! Tema Tabu, hein? rs...Eu também tenho essa visão otimista do pós-morte. A vida é tão linda! O azul do céu, os pássaros, o sol, a lua, as flores... Só realmente vemos o valor, a dimensão dessas coisas, como faz falta, quando, por alguma angustiante razão, a vemos ameaçada. Vivemos adiando, proteland o presente, como tivéssemos todo tempo do mundo. Tenho o desespero dos que não podem esperar, dos que estão conscientes de sua humana fugacidade. Obrigado.

Fábio Murilo disse...

É uma maneira boa de encarar a existência, Rita. Obrigado.

Fábio Murilo disse...

É, Laura. Só que diferentemente dos animais nos temos a consciência do tempo, das dores, alegrias, da vida e morte, do porque das coisas. O animais, vantajosamente, vivem o imediatismo do agora, vivem só pra comer e se reproduzir, sem consciência de fatos que vão alem. Vivem sem saber e morrem sabendo menos ainda. E, especialmente, nesse pormenor, a racionalidade, digamos assim, o conhecimento de tantos fatos, resultaria numa perversidade. Talvez haja alguma razão nessa exclusividade humana. Respeito muito tuas opiniões, Laura, e te admiro, já sabes. Obrigado.

Outrage Space disse...

A forma como morremos é uma consequência da vida que vivemos.

Fábio Murilo disse...

Vi uma frase parecida no filme Robinson Crusoé, é quem falou, pasme, foi Sexta-feita. Obrigado, Katia.

Shirley Brunelli disse...

Para mim, a morte é uma viagem de volta ao nosso verdadeiro lar, é a continuação de tudo e não o fim. E isso se repetirá por milênios, até que estejamos prontos para permanecer por lá.
Mas, claro, a morte não deixa de ser um fato triste.
Beijos, Fábio!

Sinval Santos da Silveira disse...

Bom domingo,caro Poeta!
Estou deveras encantado com sua sensibilidade e facilidade com as palavras.
Bravo...
Abraços
Sinval

Mayra Borges disse...

A morte é o único "fim" certo, caminhamos para ela todos os dias e a partir do momento em que nascemos começamos a morrer. É como um contador, temos nossos dias sempre muito bem contados e não há nada que possa ser feito para reverter isso. No entanto apesar de triste, eu acredito que a morte seja um recomeço, um voltar ao nosso verdadeiro lar, como a Shirley falou em seu comentário. A matéria se consome, mas a alma é imortal.

Beijos, poeta.

eraoutravezamor.blogspot.com
semprovas.blogspot.com

Nato disse...

A morte sempre me impressionou muito, mas não em um sentido negativo, sendo que acredito no pós-morte em céu reencarnação e etc., no entanto, morrer tem sua melancolia por assim o ser, puf: a morte. A morte deveria ser personificada em uma garota gótica como nos quadrinhos do Sandman, conversando com aquele tom de "aceite, tudo vai ficar bem, eu tranco a porta". Brincadeiras à parte, teu poema é muito belo, um tema delicadíssimo e tu consegues termina-lo com: "Morrer é profundamente trágico.Deveríamos como as lâmpadas apagar.".Ah, muito lindo isso! És ótimo cara!
.
Até!

Célia Lima disse...

Boa tarde Fábio!
Lindo texto como sempre!
Mas acho que ñ deveríamos nos preocupar com a morte pois essa é a única certeza que nós temos assim que nascemos.
Cumprimos a nossa missão neste plano terrestre e fazemos a nossa passagem.
Abraços e tudo de bom.

Antônio LaCarne disse...

teus poemas me tocam deveras.

Fábio Murilo disse...

Maneira positiva de encarar a vida, pensando assim tudo se encaixa. Como diz o Raul Seixas em uma de suas brilhantes composições: "...morte, morte, morte que talvez seja o segredo desta vida". Obrigado Shirley, beijos!

Fábio Murilo disse...

Obrigado amigo, que me chama de poeta, pelas palavras elogiosas, muito gentil! Grato pela visita.

Fábio Murilo disse...

Belíssima explanação M. Borges, muito lucida e coerente. Eu também, apesar de não estar ligado a nenhuma corrente religiosa, tenho esperança nesse final feliz. Obrigado. Beijos!

Fábio Murilo disse...

Eu também Nato, tenho esse pensamento, essa preocupação recorrente desde que me entendo por gente. Mas não como um simples pensamento obsessivo e tétrico, mas como um estimulo para viver mais e mais. Atento a cada oportunidade, a cada metro quadrado de prazer, de extrair dos mementos melhor qualidade de vida, de viver intensamente, enfim. Obrigado pelos elogios. Ótimo comentário!

Fábio Murilo disse...

Visão interessante a sua Celia Lima. Mas, sei lá, não tem como eu esquecer, rs... Talvez até atrapalhe. Dia desses vi uma psicologa aconselhando a que ignorássemos, pois assim, se fossemos pensar direitinho, não faríamos projetos, nada que precisasse ser concluído amanhã. Abraços, tudo de bom pra você também. Obrigado.

Fábio Murilo disse...

Que bom, Antonio LaCarne! Fico feliz, o poema cumpriu seu objetivo.

Vitor Costa disse...

A morte e o nada, nada mais desolador, angustiante...aterrorizante. Pensar na morte como fim absoluto é o maior de todos os medos. Mas, o que podemos fazer? Postergar o inevitável o máximo possível, fugindo de uma sombra que logo nos consumirá.

Prefiro acreditar em algo...mesmo que, no fundo, a incerteza seja a minha única certeza maior que a morte.

Parabéns e grande abraço Fábio.

Tais Luso de Carvalho disse...

Oi, Fábio,

Ver e sentir a morte de perto e achá-la natural não existe, o que existe é um conformismo. Acredito nisso. E  surgem as perguntas - algumas já conhecidas. Mas nenhuma resposta que nos dê a certeza da perpetuação, a não ser para os que tem fé na palavra de Deus. 

Espero, no entanto, quando meu dia chegar, quando meu olhar tiver o brilho da despedida, que eu tenha a doce ilusão de que a morte não me venha tão amarga, que me toque docemente e, sobretudo, com compaixão.

Poema forte, triste, e faz pensar...
Beijo.

(Desculpe o erro, a correção saiu errada. rs)

Fábio Murilo disse...

Quem sabe? Obrigado, Vitor Costa.

Fábio Murilo disse...

Realmente é triste, doce Tais. Queria não tocar nesse assunto. Mas, inevitavelmente, temos de deparar com essa realidade. E eu que sou por demais impressionável. Queria só falar de flores, manhãs, e amores. Mas essas coisas existem, ignoremos ou não. Só nos resta viver. Obrigado.

jair machado rodrigues disse...

Morrer é entrar noutra, diria Caio Fernando Abreu num conto...vivo me questionando desde sempre sobre minha morte, até já tentei, mas minha vontade de viver sempre foi maior, mas não posso negar o fascínio ou curisidade que este tema me provoca.
E quando são palavras juntadas por ti meu poeta Fabio Murilo, este tema toma um sabor diferente, digo, uma nova interpretação para minha alegria rs, porque morrer é uma estupidez sem tamanho, e tendo de ser, poderíamos apagar como lâmpadas ou dormindo, como minha avó. Obrigado meu poeta por uma pérola poética, com um tema que a maioria tem medo, eu também, mas não impede de eu querer saber, e ler poemas a respeito.
ps. Carinho respeito e abraço.

Fábio Murilo disse...

Oi Jair, Hoje eu leio já coisas de Augusto dos Anjos (conhece?), poeta que tem uma verdeira obsessão pelo funesto tema. Havia um tempo que não, faltava-me coragem. Grande Augusto do Anjos, poeta que tanto admiro e tira beleza do que a maioria considera mórbido. Também tenho medo Jair, é o desconhecido, coisa comum. Obrigado pelas considerações.

Patrícia Pinna disse...

Boa tarde, Fábio. Acredito que ninguém queira morrer fisicamente, mas espiritualmente para mim, ainda é a pior das mortes que vivenciamos em vida.
Um dia o nosso corpo voltará para seu local de origem, cada qual terá cumprido a sua missão, e em outro plano recomeçaremos, sem identidade, lembranças,apenas uma leveza num corpo etéreo, assim espero.
Claro que ninguém quer fazer o desenlace desta vida tão cedo, a não ser as pessoas deprimidas, que não aguentam mais o sofrimento e sucumbem.
Ainda assim, é melhor vivermos e procurarmos melhorar a nossa qualidade de vida.
Tenha uma semana de paz!
Beijos na alma!

Fábio Murilo disse...

Boa Tarde, Pat, disse tudo. Essa vida é linda, apesar dos problemas causados pelo ser humano, apesar das adversidades... Como diria Gonzaguinha: "... eu sei que a vida devia ser bem melhor e será mas isso não impede que eu repita: É bonita, é bonita e é bonita". É isso ai! Obrigado pela gentileza da visita e comentário.

jair machado rodrigues disse...

Amo Augusto dos Anjos, acho o poeta mais punk que o mundo já conheceu, tem versos como:
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.


Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Demais ele.
ps. Carinho respeito e abraço.


Fábio Murilo disse...

Isso! O nome desse soneto é Versos Íntimos, sei de cor.

Fábio Murilo disse...

Oi Samuel, sei de seu gosto por assuntos espirituais. Já li livros de Lair Ribeiro, algum tempo atras, ele é medico também. Também tenho uma visão otimista do pós-morte, amigo. Vou conferir, Obrigado.

jair machado rodrigues disse...

Eu também.

Milene disse...

Muitas vezes me pego pensando: Tão estranha é a morte, nos faz ver como somos frágeis e pequenos. Ao mesmo tempo acredito que não é o fim. É o começo de um vida eterna. O mais importante é tua lição, pois nada levamos, mas deixamos o modo como fomos. Meu avô teve uma morte serena, E o que deixou de ensinamentos, e de sua vida está tão presente, que não o lembro com tristeza. Um abraço Fábio. Gostei muito de como escreveu, bem real.

Fábio Murilo disse...

Seu avô viveu de verdade, não simplesmente passou pela vida, existiu. Obrigado, Milene.

Bruna Morgan disse...

Uau, essa sua comparação com a lâmpada foi genial!

Meu blog ♥

Fábio Murilo disse...

Obrigado Bruna. Bom que tenha gostado.

André Foltran disse...

Tu tens um medo:
Acabar.
Não vês que acabas todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo o dia.
No amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.

E então serás eterno.

(Cecília Meireles)

Fábio Murilo disse...

Que coisa linda, André Foltran. Não conhecia esse poema da Cecilia Meireles. Obrigado.

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